![luciana coelho](https://cdn.statically.io/img/f.i.uol.com.br/fotografia/2015/05/21/513505-115x150-1.jpeg)
� editora de 'Mundo' e foi correspondente em Nova York, Genebra e Washington. Escreve �s sextas sobre s�ries de TV.
'Cara Gente Branca' traz dor da consci�ncia
Se voc� � branco e tem filhos, � poss�vel que tenha tido calafrios ao ver o epis�dio final de "13 Reasons Why". Se voc� � preto e tem filhos, � mais prov�vel que o que te assombre seja o quinto epis�dio de "Cara Gente Branca", da mesma Netflix, no ar desde a semana passada.
O cap�tulo trata da viol�ncia policial canalizada para os negros, tema prevalente nos EUA que ressoa perfeitamente aqui.
Adam Rose/Netflix | ||
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A atriz Logan Browning, que interpreta a universit�ria Sam na s�rie "Cara Gente Branca" |
D�i como uma porrada no est�mago —de pretos e brancos, mas sobretudo de quem finge n�o ver diferen�as—, assim como toda a dram�dia em dez epis�dios criada por Justin Simien a partir de um filme hom�nimo de 2014.
Apenas pelo alvoro�o causado pela s�rie em redes sociais, l� e c�, j� valeria a pena acompanh�-la. "Cara Gente Branca" � irregular, como toda s�rie/novela que dedica um epis�dio a cada personagem -o cap�tulo, afinal, s� pode ser t�o bom quanto seu protagonista. Mas � necess�ria, e em seus melhores momentos, genial.
Primeiro o alvoro�o: espectadores ofendidos com o nome do programa, por enxergar nele "racismo reverso" (sic), sugeriram o boicote da produ��o e da Netflix. Funcionou apenas para provar que a s�rie estava no ponto.
O p�blico acorreu, e o programa recebeu resenhas estrelares de publica��es ultrapops �s mais sisudas ("importante e astuta", frisou o "Financial Times").
O que "Cara..." faz de "astuto" � usar estere�tipos surrados e sarcasmo irrefre�vel para colocar o espectador na pele de estudantes negros em um ambiente majoritariamente branco, o de uma faculdade de elite dos EUA.
Ativismo, colorismo (a tese de que quanto mais escura a pele, maior o racismo sofrido), assimila��o, apropria��o cultural, s�ndrome do impostor, desejo de aceita��o, relacionamentos inter-raciais: est� tudo expl�cito por um texto �gil que, apesar do proselitismo, entret�m e faz pensar.
E n�o pense que a acidez � dispensada apenas para o p�blico que mal faz ideia do que � viver como negro (n�o por acaso a hist�ria parte de uma festa de estudantes com o tema "black face", os rostos pintados de preto que por tanto tempo se usou no teatro).
H� muita autoironia tamb�m com os ativistas o —escracho das s�ries de Shonda Rhimes, uma deusa da causa por sua naturaliza��o dos protagonistas negros (das quais esta colunista � f� ), n�o deixam d�vida de que ningu�m ser� poupado.
Com um off poderoso de Giancarlo Esposito, de "Fa�a a Coisa Certa" e "Breaking Bad", "CGB" segue um grupo de universit�rios, alguns mais e outros menos engajados no movimento negro, a partir da personagem Sam (a desconcertante Logan Browning).
� frente de um programa de r�dio, � ela que cunha a express�o do t�tulo e a usa para expor situa��es que costumam passar batido. Mas Sam tem um namorado branco, e se v� obrigada de repente a dar explica��es para os pr�prios colegas de ativismo.
Bem colocadas, as nuances da s�rie, por�m, jamais se fazem confundir com relativismo. Veja.
Os dez epis�dios de "Cara Gente Branca" est�o dispon�veis na Netflix
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