A queda na aprovação de Joe Biden, demonstrada por sucessivas pesquisas desde agosto, é motivo de temor e confusão que não se restringem a membros do Partido Democrata.
Não é exagero afirmar que, se os democratas perderem o controle da Câmara e do Senado em novembro de 2022, estará aberto o atalho para uma segunda Presidência Trump.
Ou, se o empresário senil decidir que fatura mais levantando fundos com a mentira da eleição presidencial roubada, ele deve tolerar um candidato poste. Trump continua a ser o republicano mais popular, o mais formidável arrecadador de fundos e não hesita em perseguir seus desafetos dentro do partido.
A audácia demonstrada na tentativa de golpe de Estado no 6 de janeiro só vai ganhar força, já que a Justiça, ou melhor, o Departamento de Justiça não parece disposto a enquadrar os extremistas no topo.
A explicação mais simples para o infortúnio de Biden é resumida a duas palavras —pandemia e inflação. O democrata idoso deslizou para a frente de um grupo de candidatos em 2020 em meio à exaustão com a crise sanitária espetacularmente agravada por Trump.
A missão de Biden era clara: restaurar a normalidade pulverizada pelo caos trumpista. Mas o normal continua elusivo. Morreram mais americanos de Covid-19 em 2021, sob Biden, do que sob o renegado negacionista Trump, em 2020.
O país se aproxima de 800 mil mortes, apesar de três vacinas introduzidas há quase um ano. A fartura não se reflete na imunidade, porque a resistência aos fármacos virou bandeira na crise de saúde pública mais politizada da história do país. Os EUA ainda não conseguiram chegar a 60% de população imunizada com duas doses, meses após introduzir a terceira dose de reforço. A variante delta ainda é a principal ameaça, embora as manchetes, na última semana, tenham sido dominadas pela recém-identificada ômicron.
A pandemia selou a derrota de Trump e continua a definir a Presidência Biden. A rotina imposta pela Covid acirrou a percepção da desigualdade. Elites urbanas trabalham de casa via Zoom e compram gadgets para animar o isolamento –um cenário que provoca o rancor que favoreceu Trump em 2016.
Mas o retorno da inflação não fica atrás. Não adianta o governo tentar explicar que o problema é em parte decorrente da pandemia e de rupturas na cadeia de abastecimento e anunciar medidas paliativas.
A inflação de outubro, 6,2%, bateu recorde de três décadas e é diretamente responsável pela dificuldade dos centros de distribuição de alimentos para fornecer itens básicos a milhões de americanos que dependem da ajuda pública.
Os ambiciosos pacotes de estímulo econômico, proteções sociais e programas de infraestrutura de Biden contêm medidas populares que transcendem ideologia ou filiação partidária. Mas a pesquisa feita por um think tank democrata, logo após a vitória de um republicano ao governo da Virgínia, mostrou que eleitores não conseguiam citar uma só medida implementada pelos democratas desde que Biden assumiu.
Não falta quem acuse a imprensa política, preocupada demais em cobrir intrigas da corte, de negligência em explicar o impacto dos programas de Biden. Não há como comprovar esse argumento. Mas não resta dúvida de que, no momento, a democracia americana depende do sucesso de um presidente.
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