Vencedor de dois pr�mios Esso na Folha, atuou na cobertura de pol�tica e economia em S�o Paulo e Bras�lia.
Dilma deveria contratar a analista do Santander
A express�o "faltar com a verdade" � um eufemismo para dizer que algu�m mentiu. Em entrevista � Folha e a outros dois jornais nesta segunda-feira (24), a presidente Dilma Rousseff afirmou que s� percebeu os sinais da grave crise que se avizinhava entre os meses de novembro e dezembro do ano passado, ou seja, ap�s a elei��o.
Para usar outro eufemismo, os fatos contradizem a presidente.
A equipe do ent�o ministro Guido Mantega (Fazenda) definira em meados de 2014, conforme a Folha revelou em janeiro, todo o conjunto de mudan�as nas regras trabalhistas que seriam anunciadas logo ap�s a vit�ria de Dilma.
Essas altera��es, que limitam a obten��o do seguro-desemprego e do abono salarial, est�o entre as principais iniciativas da economia de receitas para cobrir o rombo das contas p�blicas.
Um integrante do time de Mantega confirmou � coluna que, muito antes da elei��o, j� se sabia da urg�ncia em cortar despesas. Mas, por uma decis�o pol�tica, essas medidas amargas e impopulares s� poderiam ser anunciadas ap�s a corrida presidencial. Evidentemente, impactariam (como impactaram) na opini�o p�blica –menos votos.
Em agosto, o governo reduziu em R$ 8,8 bilh�es a previs�o do gasto com o abono salarial para este ano. A revis�o consta do PLOA (Projeto de Lei Or�ament�ria Anual) de 2015, enviado naquele m�s pelo Planalto ao Congresso. A previs�o foi feita com base nas novas regras trabalhistas que j� estavam definidas pela Fazenda. Se a revis�o foi enviada para o Congresso em agosto, os c�lculos tinham sido feitos muito antes. Meses antes do novembro e dezembro admitido por Dilma.
No dia 6 de novembro, o ainda ministro Mantega antecipou o que sua pr�pria equipe j� havia preparado. "N�s temos agora que fazer uma redu��o importante das despesas que est�o crescendo, como o seguro-desemprego, abono salarial e aux�lio-doen�a", disse o ministro durante evento da FGV (Funda��o Getulio Vargas) em S�o Paulo.
Era not�ria na Esplanada dos Minist�rios a interfer�ncia de Dilma na Fazenda. Mantega n�o fazia nada sem que Dilma soubesse. Dif�cil acreditar que a equipe econ�mica houvesse preparado pacote para remediar a crise e que a presidente n�o tivesse a menor ideia da gravidade do quadro econ�mico.
Do mercado financeiro vieram diversos alertas de que a situa��o era muito ruim e que as contas do governo estavam em frangalhos. Um epis�dio marcou a elei��o. No final de julho, o Santander enviou para seus clientes vips um informe sobre o impacto da corrida presidencial nos indicadores financeiros.
No relat�rio, o banco espanhol avaliava que se Dilma subisse nas pesquisas e vencesse a elei��o, a Bolsa cairia e os juros subiriam. O Santander ressaltava tamb�m que a economia brasileira j� estava muito mal, com baixo crescimento, infla��o alta e d�ficit nas trocas comerciais com o mundo.
Na ocasi�o, a presidente Dilma classificou a an�lise do banco de "inadmiss�vel" e "lament�vel".
O ex-presidente Lula disse que a autora do informe do Santander n�o entendia "porra nenhuma de Brasil" e que deveria ser demitida.
Cedendo � press�o, o Santander demitiu a gerente de investimentos que escreveu a an�lise, al�m de dois de seus colegas e a superintendente da �rea, que aprovaram o texto.
Desde a vit�ria de Dilma, o quadro n�o poderia ser pior. A infla��o beira os 10% ao ano, a economia entrou em recess�o, o desemprego bate recordes, o d�lar est� em sua maior cota��o em 12 anos, o Banco Central n�o para de subir os juros...
N�o se sabe se a gerente de investimentos do Santander ainda est� desempregada. Estando ou n�o, Dilma faria um bem muito grande para si mesma se a contratasse. Dificilmente correria o risco de vir a p�blico novamente no futuro admitir que errou ao n�o compreender o �bvio sobre economia.
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