Vencedor de dois pr�mios Esso na Folha, atuou na cobertura de pol�tica e economia em S�o Paulo e Bras�lia.
Rachid planeja troca da c�pula da Receita
O secret�rio da Receita Federal, Jorge Rachid, planeja trocar nas pr�ximas semanas a c�pula do fisco. Segundo a coluna apurou, as substitui��es come�ariam por cinco superintendentes: 10� Regi�o Fiscal (Rio Grande do Sul), 9� (Paran�), 7� (Rio), 6� (Minas Gerais) e 1� (DF e Centro-Oeste). Em seguida, seriam indicados novos delegados do �rg�o nas maiores cidades do pa�s.
Rachid espera a turbul�ncia na Fazenda passar –leia-se aprova��o do pacote fiscal no Congresso– para levar os nomes para seu superior imediato, o ministro Joaquim Levy.
Rachid est� em sua segunda passagem como secret�rio da Receita. Na primeira, no primeiro mandato de Lula, sofreu forte oposi��o interna de auditores ligados ao sindicato da categoria –historicamente alinhado com o PT.
Antonio Palocci era o ministro da Fazenda de Lula na primeira metade do governo. Foi apeado do cargo em mar�o de 2006, sob a acusa��o de ter ordenado a quebra do sigilo banc�rio do caseiro Francenildo.
Considerado de orienta��o mais liberal do que o pensamento econ�mico predominante no PT, Palocci aceitou a indica��o de Rachid feita por Everardo Maciel, secret�rio do fisco no governo de Fernando Henrique Cardoso.
O embate com a ala sindicalista dos auditores, que o viam como um intruso tucano, n�o foi o �nico nem o mais feroz que Rachid enfrentou em sua primeira gest�o. Seu mais duro opositor era o ent�o corregedor-geral do �rg�o, Moacir Le�o.
Moacir Le�o foi um bravo, em v�rios sentidos. Foi o principal investigador do esc�ndalo do "propinoduto", em que fiscais da Fazenda do Rio e auditores da Receita Federal desviavam recursos p�blicos para contas na Su��a. Foi Moacir quem cunhou o termo "propinoduto", muito usado at� hoje na imprensa e nas mesas de bar quando o assunto � corrup��o.
Em julho de 2003, Moacir abriu dois procedimentos para investigar um auto de infra��o contra a construtora OAS –sim, a mesma investigada hoje na Opera��o Lava Jato– lavrado em 1994.
MULTA
A multa contra a construtora caiu de R$ 1,1 bilh�o para R$ 25 milh�es. Na equipe de fiscais, estava Rachid. Na defesa da empresa, os auditores ent�o licenciados Paulo Baltazar Carneiro e Sandro Martins Silva.
Conhecidos como "anf�bios", os dois foram demitidos pelo ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, em 2008, por improbidade administrativa decorrente de conflito de interesse –ora trabalhavam para a Receita, ora para a iniciativa privada contra o fisco, da� o apelido que remete � vida dupla.
A primeira investiga��o aberta por Moacir foi para apurar suposto enriquecimento il�cito de Carneiro e Silva. A outra, segundo a Corregedoria, por ind�cios de que a a��o contra a OAS teria sido deliberadamente inflada pelo grupo de Rachid para permitir que os "anf�bios" lucrassem com a derrubada da multa.
No final das contas, Rachid foi absolvido das acusa��es. Mas as investiga��es iniciadas por Moacir contribu�ram para sua demiss�o, por Mantega, em 2008.
Rachid foi ent�o substitu�do por Lina Vieira, apoiada pela ala sindicalista de auditores. Lina durou pouco. Com sua equipe, mudou o foco da Receita para combater e autuar os grandes sonegadores do pa�s, incluindo bancos e montadoras multinacionais de autom�veis. O grande capital falou mais alto e Lina foi demitida em 2009, ap�s bater de frente com a ent�o ministra-chefe da Casa Civil, a hoje presidente Dilma Rousseff.
Durante muitos anos, a Receita Federal foi uma dor de cabe�a para o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, dada a guerra interna entre sindicalistas, de um lado, e os seguidores de Everardo e Rachid, de outro.
Nos �ltimos dois anos, na gest�o do inexpressivo Carlos Alberto Barreto, antecessor de Rachid, os �nimos pareciam contidos. Uma sensa��o de paz, ainda que aparente, predominava na autarquia.
Com a volta de Rachid, parecia que a guerra seria retomada. Rachid, no entanto, n�o mexeu, logo na largada, na equipe deixada por Barreto, que mesclava lideran�as associadas a Everardo, em maior escala, e aos sindicalistas, em menor propor��o.
Para o bem da Receita Federal e do pa�s, num momento em que a arrecada��o de tributos se faz t�o necess�ria, seria de bom tom que Rachid movesse com bastante sabedoria as pedras no tabuleiro do fisco, de modo a n�o ressuscitar disputas internas que s� teriam uma serventia: facilitar a vida dos grandes sonegadores.
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Moacir Le�o morreu no dia 15 de dezembro do ano passado, aos 54 anos de idade. Aos 47 anos, foi diagnosticado com esclerose lateral amiotr�fica, conhecida pela sigla ELA. Com o corpo totalmente paralisado, nos �ltimos anos a �nica forma de comunica��o de Moacir com o mundo se deu por meio de um computador que "lia" o movimento de seus olhos e replicava na tela letra por letra, at� formar uma palavra.
Com esse m�todo, que muitas vezes consumia horas para escrever um simples texto, Moacir manteve um blog, com an�lises cr�ticas e precisas sobre corrup��o e esc�ndalos pol�ticos. Moacir Le�o foi um bravo at� o �ltimo minuto.
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