Vencedor de dois pr�mios Esso na Folha, atuou na cobertura de pol�tica e economia em S�o Paulo e Bras�lia.
O papel do BNDES no caso Marchiori
Conforme a Folha revelou no m�s passado, a socialite Val Marchiori obteve um financiamento no Banco do Brasil, de R$ 2,7 milh�es, a juros de 4% ao ano –bem abaixo da infla��o, que anda na casa de 6,5%.
O governo n�o arrecada o suficiente para pagar suas contas. � o que se chama de d�ficit. Dessa forma, o Tesouro Nacional precisa contrair d�vida para honrar suas obriga��es. Para pegar dinheiro emprestado no mercado, o Tesouro usa como refer�ncia a taxa b�sica da economia, a Selic, hoje em 11,25% ao ano. Numa conta de padaria, o governo paga 11,25% a quem lhe empresta dinheiro, de um lado, e cobra de Val Marchiori 4%, do outro. Quem paga essa diferen�a s�o os contribuintes que recolhem seus impostos em dia.
O BB fez uma verdadeira gin�stica, para dizer o m�nimo, para conceder o financiamento a Marchiori. Contrariou uma s�rie de normas internas da institui��o para enquadrar a opera��o nos moldes exigidos pelo BNDES, de onde saiu a linha de cr�dito para o empr�stimo, destinado � compra de cinco caminh�es.
Zanone Fraissat-14.jun.12/Folhapress | ||
A socialite Val Marchiori, que obteve financiamento do BB |
Primeiro, o BB aprovou o limite de R$ 3 milh�es para a socialite. Depois a orientou a tampar os buracos. A empresa usada por Marchiori para obter o cr�dito, a Torke Empreendimentos, n�o tinha demonstra��es cont�beis v�lidas legalmente nem previs�o no contrato social para "aluguel de caminh�es", objeto da proposta de financiamento.
A �rea de risco de cr�dito do BB verificou que as demonstra��es cont�beis da Torke entre 2009 e 2011 e o balancete de 2012 n�o estavam assinados nem registrados. Ou seja, n�o tinha valor legal algum. Os documentos s�o fundamentais para comprovar o faturamento e aferir a capacidade de pagamento de um financiamento.
A �rea de cr�dito determinou que a ag�ncia onde Marchiori pleiteou o cr�dito colhesse as assinaturas das demonstra��es cont�beis e as autenticasse.
Na data em que o BB aprovou o limite de R$ 3 milh�es, 10 de junho do ano passado, a �rea de atua��o da Torke era consultoria e marketing, e sua fonte de receitas eram a pens�o aliment�cia dos filhos de Marchiori e os ganhos dela como apresentadora de TV. A Torke s� passou a ter "aluguel de caminh�es" em seu objeto social em 20 de junho, menos de dois meses antes de o BNDES aprovar a opera��o.
O BB teve ainda que driblar outras regras para conceder o cr�dito, como desconsiderar d�vida n�o paga por Marchiori ao banco, falta de capacidade financeira compat�vel com o valor solicitado e aceitar pens�o aliment�cia como receita, cuja penhora � inconstitucional.
Mesmo diante de todos esses ind�cios de irregularidades, o BNDES insiste em afirmar que, de seu ponto de vista, a opera��o est� correta.
Por suas regras, o BNDES pode rever financiamentos concedidos por outros bancos. Se constatar irregularidades, pode desclassificar a opera��o. Isso significa que o agente repassador do cr�dito tem de devolver os recursos e assumir o empr�stimo com dinheiro pr�prio.
Questionado pela coluna, por meio de sua assessoria, se iria auditar a opera��o para Marchiori, o BNDES n�o respondeu a pergunta at� o fechamento deste texto.
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