A autoridade de estradas do Estado de São Paulo anunciou o início da preparação do novo anel viário em torno de São Paulo. Este agora vai se chamar “Macroanel viário".
Fora o nome, a história vai ser igual: ele chega com a desculpa de ser um canal para melhorar o fluxo de cargas; em seguida, induz o adensamento de suas margens, ocupando áreas verdes, espalhando as cidades e aumentando o gasto energético, a poluição; mais adiante, congestiona.
Começam as reclamações, as sugestões de criação de um outro anel mais largo. Os motoristas pressionam, as empreiteiras apresentam-se como solução, os políticos fazem a festa. E o Brasil anda em círculos.
No fim dos anos 60, foram as Marginais. Ao longo dos 1970, elas congestionaram. A partir dos 1980, começou a nascer o Rodoanel Mário Covas, ainda incompleto e já congestionado. E agora é a vez do "Macroanel".
Em 2040, vamos falar de um talvez Mega-anel viário que vai unir Curitiba, São José do Rio Preto, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. E em 2060, será a vez do Hiperanel, digamos, unindo Porto Alegre, Cuiabá, Manaus, Fortaleza, Feira de Santana e Vitória.
A lógica rodoviarista não tem limites. Ela possui a alma brasileira desse jeito insidioso como os traficantes de droga: gera necessidade para vender as soluções imediatistas, sempre erradas.
Recentemente critiquei nesta coluna a duplicação da rodovia dos Tamoios. A resposta oficial falou da necessidade de melhorar o acesso das cargas do porto de São Sebastião. A história se repetia como farsa: o governador Mário Covas (1995-2001) defendia a rodovia dos Imigrantes em nome do fluxo de cargas do porto de Santos; mas pouco depois de sua inauguração, o governo do Estado já restringia a circulação de caminhões para não atrapalhar o fim de semana dos carros de veraneio.
Depois de a Tamoios congestionar e os transportadores de carga reclamarem, os empreiteiros de obras vão apresentar como solução uma outra duplicação. Só que não: se fosse pelas cargas, teríamos construído ferrovias.
Outra característica do discurso de convencimento dos empreiteiros de obra é dizer que a obra é barata. No caso da proposta em curso, é “de graça” para o poder público, porque será uma via privatizada, pedagiada. Depois, sempre vem uma conta para o tesouro.
Canso de me repetir: na Inglaterra, o governo admite que obras viárias provocam congestionamento (não resolvem) e o agente público deve levar isso em consideração ao analisar um projeto.
Será por isso que aquela é uma nação rica e nós somos o país do futuro, sempre adiado pela construção de um Rodoanel?
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