Ex-secret�rio de Reda��o da Folha, jornalista, coautor de 'Como Viver em SP sem Carro', faz pesquisas no Warburg Institute, em Londres, com o apoio da Capes. Escreve �s segundas.
Acabar com vagas gratuitas nas ruas pode cobrir o subs�dio para os �nibus
Rivaldo Gomes/Folhapress | ||
Carros estacionados rua Alvin�polis na altura das esta��es Penha e Vila Matilde do metr� de SP |
Diariamente um milh�o de carros estacionam de gra�a nas ruas de S�o Paulo. As vagas pagas, de Zona Azul, s�o cerca de 35 mil, uma fra��o �nfima. Trata-se de um dos mais fortes subs�dios que o dinheiro de toda a popula��o paga para uma minoria. Ao permitir esse uso privado de �reas comuns, o poder p�blico trabalha como uma esp�cie de "Robin Hood �s avessas": tira de todos, inclusive os mais pobres para dar a poucos, entre os quais os mais ricos.
O dado publicado no interessante artigo "O tr�nsito de S�o Paulo tem solu��o?, do engenheiro e soci�logo Eduardo Vasconcellos, na Folha de domingo (10/12), convida � reflex�o sobre como mudar a cultura carroc�ntrica e realmente melhorar a mobilidade das cidades, a come�ar pela capital paulista.
As ruas e avenidas ocupam em torno de 20% do territ�rio da cidade. Ou seja, a cada dez metros quadrados ocupados, 2 metros s�o asfaltados. S�o vias constru�das, pavimentadas e mantidas para o autom�vel. Frequentemente a prefeitura gasta caminh�es de asfalto e dinheiro para recape�-las (agora mesmo o programa est� sendo anunciado como uma das realiza��es do prefeito Jo�o D�ria).
Todo esse volume de investimentos corresponde a centenas de bilh�es de reais aplicados ao longo de d�cadas para beneficiar os autom�veis, incentivando as pessoas a se deslocarem com ele. N�o fosse assim, as ruas poderiam ser mais estreitas e as cal�adas, mais largas e bem cuidadas, beneficiando pedestres e ciclistas; jardins poderiam ocupar mais espa�o e as prefeituras gastariam menos com asfalto. A polui��o ambiental seria reduzida.
O norte-americano Donald Shoup, respeitado urbanista da universidade UCLA, na Calif�rnia, ensina em seu livro "The High Cost of Free Parking" (O Alto Custo do Estacionamento Gr�tis ) que oferecer vagas gratuitas tem o mesmo efeito indutor do carro que dar gasolina de gra�a. Pior, ao olhar os Estados Unidos e a Europa, Shoup se refere principalmente a estacionamentos particulares, porque l� as vagas gratuitas em �reas p�blicas s�o menos comuns que em S�o Paulo.
Cobrar para os autom�veis pararem em locais p�blicos � um mecanismo fundamental de controle da Mobilidade e justi�a social. O pre�o mais caro torna mais dif�cil a decis�o de ir trabalhar, estudar ou fazer compras de carro. Al�m disso, � um mecanismo justo de arrecada��o para a prefeitura: se um motorista quer usar para si um peda�o da via p�blica, que � de todos, deve pagar por isso.
Vasconcellos considera uma tarifa m�dia de R$ 10/dia para cada vaga (bem mais barato que a Zona Azul) para mostrar que a arrecada��o anual seria de R$ 3 bilh�es. � dinheiro suficiente para cobrir o subs�dio da tarifa do Bilhete �nico. E, inversamente, transporte p�blico mais barato � um poderoso indutor da decis�o de usar trens e �nibus para o deslocamento.
Respondendo � pergunta que serviu de t�tulo ao artigo, o tr�nsito tem solu��o, desde que o dinheiro p�blico n�o seja usado para incentivar o uso do carro que vai congestionar as ruas.
A TAMOIOS E A "MENTALIDADE EMPREITEIRA"
Predominaram as cr�ticas ao texto "Ao duplicar a Tamoios, Alckmin joga bilh�es fora, publicado nesta coluna na semana passada. Foram quatro argumentos principais: melhorar o congestionamento em geral; permitir o deslocamento de quem mora no Litoral e trabalha na Capital; dar seguran�a e melhorar o transporte de cargas do porto de S�o Sebasti�o.
Mantenho o que disse no texto da coluna. Todos os argumentos s�o possu�dos por uma "mentalidade empreiteira", que tanto beneficiou as construtoras de obras p�blicas nas �ltimas d�cadas, ao propor sempre obras como solu��o para todos os problemas.
Trabalhei muitos anos com pessoas, inclusive de alta renda, que moram em Santos, Itu, Jundia� ou Campinas e trabalham na Capital. Muitos se deslocam em �nibus, lendo, trabalhando, se distraindo ou dormindo. T�m qualidade de vida melhor do que os que v�o guiando. Duplicar a Tamoios s� vai aumentar o tipo estressado.
Em carta, a assessora citou dois argumentos: a duplica��o vai tornar mais segura a rodovia, o que salvar� vidas; e vai melhorar o transporte de cargas do porto de S�o Sebasti�o. S�o ideias equivocadas: os especialistas de seguran�a no tr�nsito prop�em muitas medidas para salvar vidas nas estradas; entre elas n�o est� o aumento de vias que, ao contr�rio, pode prejudicar a seguran�a de pedestres, por exemplo. E se o foco fosse escoar cargas do porto, o governador Alckmin pediria empr�stimo para uma ferrovia.
"Duplicar vias para resolver congestionamentos � como uma pessoa gorda alargar o cinto para combater obesidade". A frase de um estudioso norte-americano foi citada em um coment�rio favor�vel ao texto. N�o � coincid�ncia obesidade e congestionamento serem os males do Brasil neste s�culo 21.
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