Ex-secret�rio de Reda��o da Folha, jornalista, coautor de 'Como Viver em SP sem Carro', faz pesquisas no Warburg Institute, em Londres, com o apoio da Capes. Escreve �s segundas.
Bonde novo pode mudar centro de SP
Divulga��o | ||
Bondes el�tricos no centro de Melbourne, capital do Estado australiano de Victoria |
Parece detalhe, mas um modo de transporte socialmente integrador mexe com o cora��o da cidade
O projeto Centro Novo, anunciado h� poucos dias pela Prefeitura de S�o Paulo, tem v�rias coisas velhas: a primeira delas � que todos os prefeitos que tomam posse na cidade, desde os anos 1980, anunciam planos para a revitaliza��o da �rea. Cada um cria uma marca que dura quatro anos, mas mesmo assim o processo em si avan�a a passos de tartaruga, mais pela f� dos indiv�duos que do poder p�blico.
Centro Novo, Arco do Futuro, Nova Luz s�o apenas os mais recentes nomes dos programas municipais para o centro velho. Ent�o, preservo o ceticismo at� ver a inaugura��o das novidades propostas pelo prefeito Doria, por Jaime Lerner e pela entidade do mercado imobili�rio, o Secovi.
Um ponto fr�gil do projeto � que ele est� baseado apenas na pot�ncia do mercado imobili�rio. E este, por maior que seja sua lucratividade em certos momentos, � muito suscet�vel �s crises que abalam o pa�s. O sucesso consistente da constru��o civil depende de financiamentos por prazos maiores que 20 anos. No Brasil, as crises ocorrem regularmente em ciclos menores que isso.
S�o Paulo Nas Alturas |
Raul Juste Lores |
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Como mostra Raul Juste Lores no livro "S�o Paulo nas Alturas", o boom imobili�rio dos anos 1950/60 foi interrompido pela crise inflacion�ria do in�cio dos anos 1960: as empresas tinham muito a receber, mas o dinheiro entrava valendo menos do que a alta do custo real da constru��o. As construtoras quebraram. Ciclos semelhantes de crescimento e crise ocorreram nos anos 1970, 1990 e 2010.
O que se v� olhando o passado � que as fases de sucesso no mercado imobili�rio brasileiro s�o mais curtas do que o prazo necess�rio para o financiamento habitacional criar um ambiente sustent�vel de longo prazo. Ent�o, de tempos em tempos, os consumidores e as empresas se retraem –para n�o dizer que ocorrem "quebradeiras".
� ing�nuo, portanto, acreditar s� na capacidade de alavancagem do mercado imobili�rio para um projeto que, por baixo, vai custar dezenas de bilh�es e demorar mais que oito ou 12 anos para amadurecer. Falta, na equa��o, algu�m com dinheiro capaz de esperar 20, 30 anos pelo retorno. Nos outros pa�ses do mundo, essas entidades geralmente s�o fundos de pens�o. Mas a cauda longa do governo federal tamb�m limita o desenvolvimento dos nossos. Enfim, falta uma parte importante da li��o de casa do projeto Centro Novo.
Um aspecto interessante do projeto � a tal linha circular de transporte coletivo. Ela � importante para as pessoas se moverem sem carro em uma �rea de tr�nsito ca�tico; para integrar outros sistemas de transporte p�blico e para o encontro das diferentes classes sociais movendo-se pela �rea central.
Melbourne, uma das cidades mais confort�veis do hemisf�rio Sul, tem uma linha circular em torno do centro e todos os transportes p�blicos gratuitos dentro do per�metro. E isso � apontado como uma raz�o importante para a qualidade de vida local.
Parece um detalhe, mas um modo de transporte integrador como esse pode mudar a percep��o da cidade. Sugiro o nome Bonde Novo, em mem�ria do tempo em que a cidade tinha um transporte coletivo eficiente, que era usado igualmente pelo prefeito, por empres�rios e trabalhadores, em seus deslocamentos pela cidade.
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