Ex-secret�rio de Reda��o da Folha, jornalista, coautor de 'Como Viver em SP sem Carro', faz pesquisas no Warburg Institute, em Londres, com o apoio da Capes. Escreve �s segundas.
Um espanhol para nosso ministro do Tr�nsito
Giovanni Bello/Folhapress | ||
Pere Navarro, especialista espanhol em seguran�a vi�ria |
Sempre achei que Pep Guardiola deveria ser o t�cnico da sele��o brasileira de futebol. Queremos o melhor do mundo, sempre. Agora defendo tamb�m a contrata��o de outro espanhol, mais estrat�gico, para melhorar a mazela mais importante de nosso pa�s: o genoc�dio no tr�nsito. Pode ser Pere Navarro, que deu entrevista � Folha, ou outro. Mas que venham os espanh�is.
� preciso querer o melhor do mundo, em todas as �reas, qualquer que seja a sua nacionalidade. Se o produto estrangeiro � melhor que o brasileiro, vamos import�-lo, isso for�ar� a concorr�ncia brasileira a se aprimorar ou fechar. Os empregos perdidos na �rea ineficiente ser�o abertos em outras.
Quando uma ind�stria n�o consegue competir, a abertura de importa��es abre empregos no com�rcio e em servi�os. Isso j� acontece hoje na �rea de inform�tica: nossos computadores eram porcarias, copiadas, caras e ruins. N�o vendiam, o contrabando era incentivado veladamente. Aberta a importa��o, o com�rcio de computadores cresceu, gerou empregos, as empresas de servi�os com t�cnicos em instala��o e manuten��o d�o exemplo de vigor do empreendedorismo. A produ��o de softwares, aplicativos e games viceja no pa�s. Temos mais empregos espalhados em consequ�ncia da importa��o do que no tempo das ind�strias espertalhonas que se aproveitaram da prote��o da Lei de Inform�tica jeca.
A mesma l�gica deveria valer tamb�m para autom�veis, roupas, sapatos, navios, plataformas de petr�leo, vinhos, livros e jornais. Vale para tudo. Inclusive a engenharia de tr�nsito e mobilidade.
Temos um tr�nsito de quinta categoria, que assassina cerca de 40 mil pessoas por ano. Nossas autoridades de tr�nsito s�o incapazes de impor solu��es: ou s�o coniventes com a mortandade ou n�o t�m peso pol�tico para abrir os olhos da sociedade e dos administradores eleitos. Basta ver que em S�o Paulo, na �ltima elei��o, tr�s dos candidatos mais fortes a prefeito atacavam a "ind�stria da multa" (uma fic��o hist�rica criada por quem n�o quer ver a ind�stria de cad�veres) e defendiam o aumento dos limites de velocidade nas ruas.
Enquanto isso, a Espanha reduz drasticamente suas v�timas de acidentes fatais no tr�nsito. N�o se pode dizer que isso acontece por uma causa �nica, nem mesmo que seus engenheiros de tr�nsito s�o melhores do que o Brasil. Mas, certamente, o pa�s se convenceu de que matar milhares de pessoas todos os anos por descaso � um problema nacional mais importante do que todos os outros -algo pluripartid�rio, acima das disputas eleitorais.
Nossos hermanos europeus tinham metade das v�timas fatais de nosso tr�nsito h� cerca de dez anos, aproximadamente 4,6 mil mortos/ano para 46 milh�es de habitantes; n�s temos 40 mil v�timas fatais para 200 milh�es de habitantes. S�o 2 mortos para cada 10 mil habitantes (l� era a metade).
Depois de assumir que isso era inaceit�vel, o pa�s reduziu esse n�mero em 60% em uma d�cada, e agora est�o com 1,6 mil/ano (3 para cada 100 mil habitantes). E n�s, como na divertida publicidade do r�gbi, estamos est�veis, disputando a rabeira do mundo em seguran�a vi�ria (ou a lideran�a em carnificina).
Por isso, defendo a desnacionaliza��o de nossas autoridades de tr�nsito e transportes: vamos contratar autoridades espanholas. E como essa � uma das maiores chagas brasileiras (talvez a maior), se o esquema der certo, sugiro mudar a lei e autorizar um espanhol a ser presidente do Brasil.
Se ainda assim nada der certo, proibir os homens de dirigir pode eliminar 90% dos acidentes fatais no tr�nsito.
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