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Ex-secret�rio de Reda��o da Folha, jornalista, coautor de 'Como Viver em SP sem Carro', faz pesquisas no Warburg Institute, em Londres, com o apoio da Capes. Escreve �s segundas.
Parque do Povo est� sendo usado por estacionamento que desmontou teatro
Zanone Fraissat - 6.ago.2016/Folhapress | ||
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Parque do Povo |
O Parque do Povo � um o�sis verde assentado entre avenidas de grande movimento no Itaim Bibi. Milhares de motoristas passam em velocidade pela marginal Pinheiros, pela Cidade Jardim ou pela Juscelino Kubitschek e podem nem notar que ali existe uma grande �rea verde, com pista para corredores e ciclistas, jardins, quadras de esporte e aparelhos de gin�stica.
Enquanto uns cruzam de carro pelo asfalto e outros atravessam o parque a p�, ningu�m nota que est� se consolidando novamente um uso privado irregular dentro daquela �rea p�blica que tanto custou a ser recuperada: o terreno concedido ao Grupo Ventoforte est� sendo usado por estacionamento que at� desmontou um dos tr�s teatros e derrubou �rea verde para abrir espa�o aos autom�veis.
O parque foi inaugurado em 2008 depois de muitas d�cadas de disputas judiciais contra invasores que haviam ocupado e "privatizado" terrenos de diferentes �rg�os p�blicos descuidados, como a Caixa Econ�mica e a Previd�ncia Social (que abandona propriedades em todo o pa�s em vez de vend�-las para abater seu famoso deficit).
Ali, por tr�s de uma muralha de outdoors irregulares, que caiu com a lei Cidade Limpa, havia de tudo: uma empresa que explorava campos de futebol, uma favela que crescia consistentemente, bares, uma escola de circo mambembe que alugava espa�o para festas caras, um estacionamento caro. E um teatro popular importante no cen�rio cultural da cidade. Todos se beneficiavam da terra "gr�tis" que o descaso com a coisa p�blica propiciava.
Lenise Pinheiro - 8.out.2004/Folhapress | ||
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Grupo Ventoforte |
Aberto o parque, a �rea ganhou imediatamente uma grande frequ�ncia, como outras poucas na cidade. Foi para lig�-la ao Ibirapuera que a prefeitura criou originalmente a "ciclofaixa de lazer" dominical, que deu mais for�a �s bicicletas na cena paulistana.
Restam algumas �reas para serem resgatadas, as tr�s separadas do parque por ruas asfaltadas: duas quadras permanecem sem destina��o, e uma � usada por um grande estacionamento privado.
J� o Ventoforte, fundado pelo dramaturgo Ilo Krugli e instalado ali desde os anos 1970, foi beneficiado por concess�o p�blica em reconhecimento � sua import�ncia para a cultura paulistana. Os tr�s galp�es usados como teatros ficaram separados do parque por uma cerca viva, com algumas grandes �rvores, criando um ambiente harmonioso, perfeito para a criatividade do grupo.
Numa cidade apressada, poucos talvez tenham notado que recentemente o local mudou radicalmente: o verde deu lugar a um estacionamento e ao aluguel de bicicletas. Um dos tr�s teatros e boa parte do verde foram derrubados para dar espa�o aos carros.
Algu�m poderia dizer: o teatro precisa de dinheiro para se sustentar. Mas se Ilo Krugli conseguiu gerar toda sua reconhecida contribui��o para a cultura brasileira desde os anos 1970 naquele mesmo local, sem ter estacionamento, o mais prov�vel � que seja um argumento torto, que Krugli nem saiba o que est�o fazendo no fundo do teatro.
Parafraseando um ditado antigo, "o pre�o da coisa p�blica � a eterna vigil�ncia". Ainda que pare�a sutil, a mudan�a da destina��o cultural original para uma empresa de estacionamentos altera o contrato que a cidade tem com o espa�o. S�o Paulo precisa de cultura e �reas verdes. Os estacionamentos privados n�o fazem parte desse pacote.
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