Ex-secret�rio de Reda��o da Folha, jornalista, coautor de 'Como Viver em SP sem Carro', faz pesquisas no Warburg Institute, em Londres, com o apoio da Capes. Escreve �s segundas.
Lula se tornou um Maluf de esquerda
Marlene Bergamo/Folhapress | ||
Lula, ao lado do ex-ministro Jaques Wagner, em Cruz das Almas (BA) |
A foto � expressiva: duas cabe�as brancas dominam completamente o quadro em cujo fundo se v� o povo disciplinado, a maior parte com uniforme vermelho. De t�o perto, a imagem do ex-presidente � uma met�fora da condi��o petista: Lula perde cabelos, como seus com�cios se tornam cada vez mais ru�os.
Em seu discurso, Lula ataca um advers�rio mais novo (o prefeito Jo�o Doria): "Ele saiu do nada"; "Eu queria que ele governasse S�o Paulo, s� isso. Primeiro ele vai ter que comprovar que ele pode fazer. Uma coisa � gerir quitanda, outra coisa � gerir uma cidade", disse, conforme o relato da Folha. O discurso do l�der trabalhador envelheceu, mais ainda do que a passagem dos anos. O ex-presidente se transformou em um Paulo Maluf do PT, usando os mesmos argumentos que d�cadas atr�s seu ent�o advers�rio figadal lan�ava contra ele.
Para esconder a invers�o de sinal, Lula cria um simulacro de si mesmo. A caravana pelo Nordeste � uma remontagem daquela que se seguiu � derrota para Fernando Collor, em 1989, quando saiu da depress�o em um �nibus pelo interior do pa�s aplainando o longo caminho para o Planalto. Em 1991, assisti sua passagem por Xapuri, no Acre, onde at� eleitores de Collor queriam tocar a grande figura que visitava a cidade. O jovem Lula provocava devo��o semelhante �s imagens de santos.
Hoje a realidade � inversa: visita a Bahia, governada pelo PT, de bra�os com seu atual oligarca. A seu lado n�o est� o sindicalista Jacques Wagner mas o coronel que ocupa o lugar que antes foi de Antonio Carlos Magalh�es, o Toninho Malvadeza, chamado "Cabe�a Branca" em jingles apaixonados. N�o � s� a cor dos cabelos, at� a roupa branca o l�der petista pegou do antecessor no posto de "dono da Bahia".
O resto da caravana vai ser igual: Lula vai percorrer os Estados do Nordeste brasileiro de bra�os dados com novas e velhos oligarquias regionais, at� chegar ao paroxismo de visitar o Maranh�o com apoio do novo governador, do PCdoB, e da fam�lia Sarney, fora do governo estadual mas sempre com um p� no poder.
Por essa estranha alian�a de interesses senis, o discurso de classe dos anos 1980 j� n�o fica bem: Lula agora fala mal de S�o Paulo, insuflando uma disputa regional que, se radicalizada, pode vir a fazer muito mal ao Brasil. Se o "nacionalismo � o �ltimo reduto dos canalhas", o regionalismo deve ser um reduto dos velhacos.
H� outras semelhan�as entre Maluf e o Lula de hoje: perseguidos por acusa��es de corrup��o ambos repetem negativas semelhantes; como Saturnos, dominam seus partidos castrando ou engolindo as lideran�as independentes; depois de exibi��es de grande popularidade, ambos t�m agora que fugir dos fantasmas dos "postes" que criaram (Celso Pitta e Dilma Rousseff); depois do fracasso dos ep�gonos, os dois se tornaram campe�es das pesquisas antecipadas mas t�m de enfrentar o teto imposto pelas taxas de rejei��o (no caso de Maluf, as v�rias derrotas serviram para mostrar como os resultados de pesquisas antes da hora s�o ilus�rios).
A alian�a recente entre os dois, eternizada em fotos de quando aben�oaram a candidatura de Fernando Haddad, s� torna mais patente a coincid�ncia dos esp�ritos. Lula mexe com a mem�ria do folclore pol�tico brasileiro quando ataca algu�m por inexperiente. S� falta repetir o slogan de Maluf: "Foi Lula que fez". Ou como outro pol�tico mais antigo: "...Mas o Lula faz!"
Rodrigo Coca - 18.jun.2012/Fotoarena/Folhapress | ||
Maluf (� dir.) com Haddad e Lula em sua casa em evento para selar alian�a com PT na elei��o de 2012 |
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