Ex-secret�rio de Reda��o da Folha, jornalista, coautor de 'Como Viver em SP sem Carro', faz pesquisas no Warburg Institute, em Londres, com o apoio da Capes. Escreve �s segundas.
Brasil precisa aumentar ainda mais impostos sobre gasolina
Joel Silva/Folhapress | ||
O aumento do imposto sobre combust�veis, com consequente alta de pre�os, vai ser bom para o pa�s por uma raz�o mais importante do que engordar o caixa do governo federal. Deve diminuir a demanda pelo uso dos autom�veis e ajudar a qualidade do ar das grandes cidades, especialmente S�o Paulo.
O consumo de combust�vel e o uso do autom�vel s�o influenciados por pre�o. Al�m de quebrar a Petrobras, muito mais do que a corrup��o, a pol�tica demag�gica que marcou os governos Lula e Dilma, de pre�os artificialmente baixos para agradar a ind�stria automobil�stica e segurar a infla��o, provocou aumento do uso do carro e fez mal a todas as grandes cidades do pa�s. A epidemia de congestionamento foi marca registrada dos governos petistas.
Menos conhecido do p�blico, mas profundamente danoso foi o aumento da polui��o e das doen�as decorrentes, principalmente respirat�rias. O mimo para a classe m�dia e para as f�bricas de carro foi pago com um aumento de custos para a sa�de p�blica que vai deixar consequ�ncias de longo prazo para o pa�s.
A taxa��o maior sobre os derivados de petr�leo do que para o �lcool tamb�m pode ser boa, se os postos mantiverem a propor��o no pre�o para o consumidor. Nos anos passados, ao mesmo tempo em que continham o pre�o dos combust�veis, o governo federal reduziu a diferen�a entre gasolina e �lcool abaixo dos 30% necess�rios para igualar o desempenho de consumo (os carros precisam de mais �lcool para rodar a mesma coisa, por isso, o biocombust�vel tem que ser mais barato). Essa (falta de) estrat�gia quebrou o setor do �lcool.
Na �ltima ter�a-feira, a publica��o "Nature Communications" divulgou um artigo sobre a polui��o causada pelo crescimento do consumo de gasolina e redu��o do uso de �lcool em S�o Paulo em fun��o de pre�o durante o ano de 2011. O estudo chamado "Redu��o dos n�veis de part�culas ultrafinas na atmosfera de S�o Paulo durante troca de consumo de gasolina pelo etanol" foi feito por uma equipe multidisciplinar de pesquisadores de diferentes universidades, formada pelos brasileiros Alberto Salvo (economia, Universidade de Cingapura), Joel Brito e Paulo Artaxo (f�sica, USP) e o alem�o Franz Geiger (qu�mica, Northwestern University, EUA).
O artigo mostra como o comportamento do consumidor � sens�vel a altera��es de pre�o e, por isso, a polui��o cresceu quando o governo federal deixou o �lcool mais caro.
Em verdade, uma gest�o p�blica estrat�gica tem que levar em considera��o v�rios aspectos da vida: a arrecada��o de impostos, a taxa de polui��o, o uso de autom�vel e os transportes p�blicos, a tecnologia dos motores, o desenvolvimento da agricultura brasileira, etc.
Em anos passados, os prefeitos Gilberto Kassab e Fernando Haddad propuseram o aumento da Cide, tributo federal sobre combust�veis, com repasse para as metr�poles subsidiarem as tarifas de transportes p�blicos.
O governo Temer, que tenta sobreviver a qualquer custo, vai tapando buracos pol�ticos e econ�micos atabalhoadamente. Assim, se apropriou de uma receita que poderia melhorar os sistemas de �nibus municipais. O vampiro de Bras�lia chupa mais um pouco do sangue do pa�s e deixa as tarifas dos coletivos por conta dos cofres dos munic�pios, muitos quebrados. � p�ssimo, sem d�vida.
Mas o aumento de pre�os vai reduzir a demanda por combust�veis, mormente derivados de petr�leo, e isso tende a ter dois bons efeitos: diminuir as viagens de carro e a polui��o nas grandes cidades.
A rigor, apesar da grita de donos de autom�veis e caminh�es, o ideal para o pa�s � que mais aumentos ocorram, pressionando radicalmente a altera��o do padr�o da mobilidade e dos transportes. E com eles, poder� ser recuperada a ideia da "Cide para os munic�pios".
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