Ex-secret�rio de Reda��o da Folha, jornalista, coautor de 'Como Viver em SP sem Carro', faz pesquisas no Warburg Institute, em Londres, com o apoio da Capes. Escreve �s segundas.
Prepare o copo: pre�o do vinho no mundo deve cair gra�as ao brexit
Bruno Fernandes/Folhapress | ||
O Reino Unido � o maior importador de vinho da Europa, o segundo maior do mundo (atr�s apenas dos Estados Unidos). Sua popula��o consome tanto vinho quanto alguns dos maiores produtores (21 litros por ano). Se voc� associa a Gr�-Bretanha ao u�sque ou � cerveja, saiba que um brit�nico consome em m�dia a mesma quantidade anual de vinho e cerveja (pouco mais de 30%), mesmo o vinho sendo mais forte; e os dois fermentados juntos somam tr�s vezes mais que todos os destilados.
Nos pr�ximos anos, no entanto, o consumo deve cair vertiginosamente, por causa da crise econ�mica em curso, que ser� agravada pelo Brexit, a sa�da da Uni�o Europeia. E se o consumo cai na Inglaterra, os pre�os caem no mundo inteiro.
Hic! Quem gosta de vinho pode comemorar e preparar para se esbaldar ao longo dos pr�ximos sete ou oito anos.
N�o pense que isso � conversa de bar. As proje��es foram encomendadas pelo Observat�rio de Pol�ticas Comerciais do Reino Unido (a sigla em ingl�s � UKTPO), um centro de estudos ligado � Universidade de Essex, que queria saber: "O Brexit vai afetar negativamente o mercado brit�nico e mundial do vinho"? Para responder, o instituto contratou dois dos maiores especialistas do mundo em economia internacional da bebida, os australianos Kym Anderson (Universidade de Adelaide) e Glyn Wittwer (de Melbourne). A Austr�lia � um dos maiores exportadores de vinho do planeta e projetar as tend�ncias de mercado � estrat�gico para ela.
Coube a Anderson dar as m�s not�cias aos ingleses, no dia 19/5, em Londres: sim, o Brexit vai abater o mercado ingl�s e do mundo todo. Os dois projetaram como cen�rio mais prov�vel para a Gr�-Bretanha: um aumento de pre�o de 22% (acima das varia��es naturais que devem acontecer, mesmo que n�o houvesse o Brexit); uma queda de consumo de 28%; e, para tentar manter a quantidade de bebida, com menos, dinheiro, os brit�nicos v�o importar vinhos 27% mais baratos do que compram hoje.
O impacto dessas quedas � muito danoso para a ind�stria do vinho em todo o planeta. Imagine que em torno do ano 2000, o Reino Unido adquiria 20% de todo o com�rcio internacional de vinho (esse percentual caiu para 14% desde a crise de 2008). Para sustentar essa glutonice, os s�ditos de Elizabeth 2a. compram 30% do vinho exportado por Austr�lia, Nova Zel�ndia e Estados Unidos (fora o que buscam em outros parceiros, como Fran�a, It�lia, Espanha, Portugal, Argentina, Chile, �frica do Sul etc.).
Os produtores de todo o mundo t�m raz�o para se preocupar com a crise gerada pelo Brexit. Mas entre eles, os mais prejudicados ser�o os de pa�ses, como Fran�a, Portugal e It�lia, que t�m um pre�o m�dio mais caro, por imagem e qualidade. Para economizar na hora da compra, mas tentar manter a quantidade consumida, os brit�nicos dever�o comprar vinhos mais baratos, beneficiando (ou prejudicando menos) os produtores de pa�ses com pre�o m�dio menor: Chile, Argentina, �frica do Sul v�o ganhar fatias do mercado ingl�s. Essa tend�ncia j� � vis�vel: nunca se falou tanto e t�o bem de Malbecs nas colunas de vinho.
Segundo os dois especialistas, mesmo que a Gr�-Bretanha assine tratados de livre-com�rcio com outros pa�ses, para substituir o mercado comum europeu, ainda assim eles levar�o anos para serem implementados e substituir integralmente as lacunas causadas pelo Brexit. Por isso, projetam esses cen�rios at� 2025, quando o mercado deve encontrar seu equil�brio novamente.
Se os produtores v�o penar, os consumidores fora da Inglaterra v�o se dar bem: a queda da demanda vai aumentar a oferta e pressionar para baixo os pre�os internacionais do vinho, principalmente dos pa�ses mais caros.
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