Ex-secret�rio de Reda��o da Folha, jornalista, coautor de 'Como Viver em SP sem Carro', faz pesquisas no Warburg Institute, em Londres, com o apoio da Capes. Escreve �s segundas.
Por que na Inglaterra brasileiros debatem sem bater?
Cynthia Vanzella | ||
O ex-ministro Jos� Eduardo Cardozo e o juiz Sergio Moro em evento em Londres |
Uma coisa chamou a aten��o de muitos presentes ao Brazil Forum, realizado no fim de semana nas cidades inglesas de Londres e Oxford: as discuss�es ocorreram em tom educado, completamente diferente da agressividade que tem marcado o enfrentamento pol�tico no Brasil. Exemplo mais claro foi a mesa de debate que reuniu o ex-ministro e advogado de Dilma Rousseff Jos� Eduardo Cardozo e o juiz Sergio Moro, nome mais conhecido da Opera��o Lava Jato: o esperado "duelo" n�o aconteceu, ambos expuseram com clareza suas ideias, contr�rias, sem atrito. "N�o dei nenhuma cotovelada", brincou Moro ao comentar exatamente como os dois podem conversar civilizadamente.
Se s�o brasileiros e ningu�m deixou de expor suas convic��es, por que na Inglaterra n�o acontece o tiroteio que tem caracterizado o debate no pa�s?
O Brazil Forum � um evento que se pretende anual, voltado para o p�blico de jovens estudantes brasileiros no Reino Unido. � sediado na London School of Economics e em Oxford. No s�bado, na capital, houve at� alguns momentos em que pessoas da plateia foram mais agressivas. O exemplo mais claro foi o de uma senhora que segurou um cartaz de protesto, provocando uns poucos gritos de "golpista" no in�cio da fala do ministro do Supremo Lu�s Roberto Barroso ("presidente de honra" do evento) e, do outro lado, um "demagogo" disparado quando falava o ex-ministro Patrus Ananias. Fora isso, umas vaias aqui e ali que n�o chegaram a provocar maior desconforto.
Neste domingo (14), em Oxford, como relata o enviado especial da Folha, Diogo Bercito, o clima foi de cordialidade.
Pode ser o fato de que a plateia n�o tem influ�ncia direta sobre o que acontece em seu distante pa�s de origem e, por isso, n�o precise ser disputada a tapa. Ou pode ser que a centen�ria democracia inglesa contamine positivamente os estrangeiros quando discutem pol�tica por aqui: agressivos em sua terra natal, talvez os brasileiros se contenham ao ver o tom educado com que os brit�nicos de partidos antag�nicos discutem mesmo as mais radicais diferen�as. Ou pode ser outro motivo. O fato � que esse poderia ser um bom tema para estudos de psicologia pol�tica. Afinal, se aqui d� para debater sem bater, dever�amos aprender a fazer o mesmo no Brasil.
S�o Paulo come�a a olhar para as cal�adas
Na pr�xima quarta-feira, a C�mara Municipal de S�o Paulo deve votar o "Estatuto dos Pedestres". Depois de um s�culo 20 inteiramente voltado para os direitos dos autom�veis (usados diariamente por apenas um ter�o das pessoas que se deslocam pela cidade) e quatro anos marcados pelo crescimento de ciclovias, � muito positivo que se comece a garantir os direitos de toda a popula��o que � pedestre, ao menos em algum momento do dia.
A lei, proposta pelo vereador Police Neto, ser� votada no m�s dedicado, em S�o Paulo e outras cidades do mundo, �s campanhas de seguran�a no tr�nsito ("Maio Amarelo"). A oportunidade coincide tamb�m com o an�ncio feito pelo secret�rio municipal de Transportes, Sergio Avelleda, de que vai aumentar o tempo de dura��o do "verde" nos sem�foros para pedestres (demorar para abrir e permanecer aberto por pouco tempo s�o defeitos apontados como causa de atropelamentos em v�rios cruzamentos da cidade).
Segundo o autor da lei, o Estatuto do Pedestre vai fazer com que as cal�adas sejam equiparadas com as vias dedicadas aos carros (todas as ruas e avenidas da cidade). Assim, os passeios devem ter sinaliza��o, ilumina��o e manuten��o do pavimento adequadas para dar seguran�a a quem se desloca a p� (hoje as cal�adas irregulares s�o causa de acidentes). Ser� que chegou a hora da "pedestrovia"?
� poss�vel que os deuses do tr�nsito estejam come�ando a soprar ventos positivos em dire��o a S�o Paulo. Mas � preciso que os homens ajudem: se a lei for aprovada, ser� necess�rio cobrar a sua implementa��o r�pida, para criar uma rede de caminhos seguros que mude a fei��o da cidade.
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