Ex-secret�rio de Reda��o da Folha, jornalista, coautor de 'Como Viver em SP sem Carro', faz pesquisas no Warburg Institute, em Londres, com o apoio da Capes. Escreve �s segundas.
Minist�rio da Sa�de devia advertir: diesel mata!
Apu Gomes - 27.fev.14/Folhapress | ||
Caminh�o solta fuma�a preta enquanto pedestres atravessam a ponte dos Rem�dios, em S�o Paulo |
H� muito tempo o diesel deveria ter sido proibido nas grandes cidades, mas a ind�stria do petr�leo e as f�bricas de caminh�es e �nibus for�am para mant�-lo. Com isso, ele segue matando, por doen�as respirat�rias e outras colaterais, mais at� do que a gasolina, menos poluente.
No papel, S�o Paulo est� na vanguarda do planeta: a C�mara Municipal aprovou em 2009 a lei municipal de mudan�as clim�ticas, que previa que todos os �nibus em circula��o na cidade seriam movidos a energia limpa em 2018. Isso mesmo, j� no ano que vem.
Na vida real, estamos atrasados: para chegar l� deveria ter havido ao longo dos �ltimos anos uma substitui��o anual de 10% da frota, que n�o aconteceu nas gest�es Kassab e Haddad. Depois de anunciar � coluna que em 2018 a cidade s� teria �nibus "verdes", a prefeitura lan�ou a licita��o para renova��o dos contratos de �nibus da cidade, em 2015, sem refer�ncia � quest�o; tampouco exigiu a compra de �nibus limpos aos concession�rios do contrato anterior. A concorr�ncia ficou suspensa at� o final de 2016. E desde que tomou posse, a atual administra��o ainda n�o tocou no assunto. Estamos quase no meio do ano e n�o � poss�vel mudar tudo no tempo que resta.
Uma das causas da preserva��o do diesel em todo o planeta � uma vis�o imediatista do que sejam gastos p�blicos: trocar a motoriza��o da frota de uma metr�pole custa um caminh�o de dinheiro (perdoe o trocadilho). Mas se o governante olhar os cofres p�blicos como um todo, ver� que a substitui��o pesa no "bolso dos Transportes", mas depois sobra dinheiro no "bolso da Sa�de".
Foi essa vis�o mais ampla da administra��o que convenceu a primeira-ministra brit�nica, a conservadora Theresa May, a aceitar a tese do prefeito de Londres, o trabalhista Sadiq Khan, que defende o financiamento p�blico para incentivar os propriet�rios a trocar seus ve�culos ou motores diesel. Khan estima o processo de convers�o em dois anos ao custo de 3,5 bilh�es de libras. Prefeito e primeira ministra ter�o de convencer as suas �reas de finan�as e tamb�m o ceticismo de outros pol�ticos que n�o acreditam nos n�meros.
Apesar de serem de partidos diferentes, os dois concordam quanto aos n�meros que indicam que 9.000 londrinos morrem por ano em decorr�ncia de doen�as relacionadas � polui��o, a um custo anual de 3,7 bilh�es de libras (R$ 15 bilh�es). No Reino Unido todo, o custo chegaria a 20 bilh�es de libras (R$ 80 bi).
A polui��o da capital inglesa vem principalmente de ve�culos automotivos e 10% da frota de carros de passeio roda com diesel. Em 2015, o ex-ministro da Ci�ncia, Paul Drayson, iniciou o combate ao combust�vel ao declarar: "O diesel est� literalmente matando gente".
V�rias cidades da Europa, onde se usa um diesel menos poluente que o brasileiro, anunciam restri��es ao combust�vel. At� a Cidade do M�xico, com caracter�sticas semelhantes a S�o Paulo, vai adotar a proibi��o total do combust�vel em suas ruas a partir de 2025, acompanhando Paris e Londres.
H� uma grande amea�a para o Brasil nessa press�o coesa das cidades europeias: pense para onde as f�bricas v�o querer exportar os ve�culos que n�o poder�o mais vender na Europa e no M�xico? Com a subservi�ncia dos sucessivos governos brasileiros � ind�stria automobil�stica, logo vai aparecer um projeto de incentivo � implanta��o de montadoras de carros a diesel. Preparem os hospitais, que l� vem mais doen�a pulmonar.
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