Ex-secret�rio de Reda��o da Folha, jornalista, coautor de 'Como Viver em SP sem Carro', faz pesquisas no Warburg Institute, em Londres, com o apoio da Capes. Escreve �s segundas.
O que Jesus diria da Previd�ncia Social brasileira
Enquanto brasileiros se digladiam entre os que defendem a Previd�ncia Social tal como est� hoje e os que preferem as pequenas altera��es cosm�ticas propostas pelo governo, o sistema estatal de aposentadoria compuls�ria vai seguir sem qualquer altera��o nos seus principais defeitos.
Um deles, o mais simples de resolver e por isso mesmo mais perverso, � funcionar conforme um comportamento condenado por Jesus Cristo na B�blia, que � guardar o dinheiro dos outros sem investir nem fazer render. � o que se l� na par�bola dos talentos.
A Previd�ncia brasileira funciona como um bol�o que os trabalhadores na ativa fazem para dividir entre os aposentados. O INSS s� recolhe o dinheiro, divide o resultado da vaquinha mensal e distribui para os aposentados, sem fazer render, sem criar uma valoriza��o do capital que fa�a o bolo crescer, como fazem os fundos de Previd�ncia privada. Com isso, os ricos, que t�m previd�ncia privada, ficam mais ricos e os pobres, que dependem do esquema estatal, ficam cada vez com menos benef�cios.
No Evangelho Segundo S�o Mateus, cap�tulo 25, Jesus conta a hist�ria de um homem que sai em viagem. Se voc� puder, leia a B�blia. Ou ent�o, confie em minha adapta��o da hist�ria. Foi mais ou menos assim:
"Antes de ir viajar, o homem chamou tr�s fundos de previd�ncia, dois privados e um estatal e deu a eles seus bens para cuidarem. O que ele tinha estava tudo em cash. No primeiro, depositou cinco dinheiros; ao segundo, deu dois; e ao terceiro, um.
Passou muito tempo fora e quando voltou, j� estava mais velho, perto do momento de se aposentar (dependendo de sua opini�o sobre a reforma da Previd�ncia, voc� escolhe: 65 anos, 80 ou 120, como Matusal�m). Chamou os tr�s fundos para fazerem um balan�o. O primeiro contou que tinha investido o valor e a rentabilidade tinha sido de 100%; deu dez dinheiros ao homem; o segundo tinha feito neg�cios e eles tamb�m dobraram o capital; deu quatro dinheiros ao cliente. E o terceiro narrou ter ficado com medo de investir mal e perder o pec�lio e por isso o havia enterrado. Devolveu ao homem apenas o mesmo que havia recebido.
O homem ent�o disse: 'Mau e negligente: Devias ent�o ter dado o meu dinheiro aos banqueiros e, quando eu viesse, o receberia com juros. Tirai-lhe, pois, o investimento, e dai-o ao que tem os dez dinheiros. Porque a qualquer que tiver ser� dado, e ter� em abund�ncia; mas ao que n�o tiver at� o que tem ser-lhe-� tirado'.
Jesus perguntou ent�o aos disc�pulos: Qual dos tr�s era o fundo estatal?
Judas comentou que n�o sabia mas perguntou ao vizinho onde deveria investir uns trinta dinheiros que estava para receber dali a pouco. Tom� disse que s� acreditaria em tamanha incompet�ncia se pudesse ver. Jo�o, que gostava de falar segredos aos ouvidos dos colegas, cochichou a resposta, mas n�o se sabe qual foi. Mateus, que era funcion�rio p�blico, reclamou que a par�bola era neoliberal e privatista.
Nessa hora, um fariseu que a tudo assistia quieto se levantou e disse: Nada disso � verdade, porque nem por milagre algu�m pode tirar o dinheiro da Previd�ncia Social e investir em bancos. Todos s�o obrigados a deixar o dinheiro com o mais incompetente dos tr�s, aquele que n�o investe".
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