Ex-secret�rio de Reda��o da Folha, jornalista, coautor de 'Como Viver em SP sem Carro', faz pesquisas no Warburg Institute, em Londres, com o apoio da Capes. Escreve �s segundas.
Holiday, o mais novo velho vereador da cidade
Karime Xavier/ Folhapress | ||
Vereador Fernando Holiday (DEM) em seu gabinete |
Fernando Holiday (DEM) tem cumprido o papel a que se prop�s, ser um vereador diferente do que havia na C�mara Municipal. Por isso desperta com frequ�ncia os instintos mais primitivos em vereadores e eleitores petistas, incomodados com o embaralhamento das cartas que consideravam suas: como pode o mais jovem da casa ser de direita? Estudante pobre n�o seguir a cartilha da UNE? Um negro n�o ser de esquerda? Um militante gay contra o PT?
Nas �ltimas semanas, no entanto, ao realizar "visitas surpresas" a escolas p�blicas cidade, o jovem teve seus dias de velho vereador, fazendo lembrar alguns dos momentos mais problem�ticos da tradicional confus�o entre Legislativo e Executivo.
N�o � atribui��o de vereadores fazer blitz em reparti��es ou �rg�os do Executivo. A hist�ria recente da cidade est� cheia de casos de conflitos de compet�ncias e acusa��es de irregularidades desse tipo. Boas inten��es, como as de Holiday, j� levaram muitos vereadores para o inferno pol�tico.
De vez em quando, legisladores fazem toda sorte de lamban�as em dep�sitos de alimentos, de rem�dios, restaurantes, supermercados e estacionamentos. Geralmente, tiram funcion�rios da prefeitura de sua jornada regular, ganham not�cias ef�meras e s�o esquecidos. Outros s�o investigados por acusa��o de acobertar achaques. Mas as a��es efetivamente resultam em nada, simplesmente porque n�o s�o atribui��o de vereador.
Holiday visitou escolas. Quem d� ou frequenta aulas sabe como um evento desses provoca dist�rbios, tira concentra��o de professores e alunos. A "dona" de uma escola municipal � sua dire��o, que exerce a autoridade em nome do prefeito e dos pais. Uma diretora ou diretor de Emei deve evitar a entrada de vereadores, jornalistas, padres ou policiais que apare�am sem aviso e formalidade. Se n�o o fizer, qualquer bandido pode aparecer se fazendo passar por um desses profissionais para roubar, n�o mais aten��o, mas bens e dinheiro.
Mas j� pensou o que n�o faz um vereador barrado em sua performance? Pressionada, a dire��o da escola aceita a presen�a alien�gena. Como se chama isso? Intimida��o, constrangimento. Foram essas as palavras que o secret�rio Alexandre Schneider usou para dizer que o vereador abusou de sua compet�ncia. Estava correto.
E o que fez o jovem l�der do MBL? Foi � tribuna e o acusou de irregularidades, baseando-se em not�cias velhas, que o tempo j� provou falsas. O jovem aprendiz de pol�tico se comportou como um velho vereador contrariado.
S� um pequeno detalhe separa o MPL, de esquerda, do MBL, de direita: uma pequena curva a mais, a barriguinha sutil que distingue o B do P. Os dois movimentos surgiram na mesma �poca, em 2013, movidos pela vontade de conquistar o mundo e mudar tudo num piscar de olhos.
O MPL, esquerdista, provocou a fa�sca que incendiou os protestos de 2013 e, qual uma ejacula��o precoce, desapareceu em seguida. Amarga hoje o ostracismo na esquerda, por ter acendido o f�sforo que milh�es, em seguida, usaram para incendiar a estrutura do governo Dilma. Sem o protesto contra o aumento do bus�o, Dilma n�o teria perdido o rebolado e cometido a sucess�o de erros que resultou no suic�dio pol�tico, que alguns chamam "golpe".
Mais bem alicer�ado no esp�rito do tempo p�s-lulista, o MBL durou mais. Amarga, por�m, quatro anos depois, o esgotamento da capacidade de mobiliza��o popular: o movimento se mostrou impotente ao convocar as �ltimas manifesta��es de rua. E s�o as ruas lotadas que d�o peso pol�tico a seus dirigentes. Sem povo na Paulista, Holiday tem que sair em busca de outro tema mobilizador.
� nesse contexto que Escola sem Partido se torna um bom programa: tem muita gente no pa�s que desconhece educa��o e se encanta com essa ideia fascist�ide (o argumento foi usado pela ditadura militar para cassar professores como Fernando Henrique Cardoso, por exemplo). Tentar derrubar secret�rios do prefeito mais badalado do pa�s tamb�m pode ser uma demonstra��o de for�a do movimento: mesmo sem eco nas ruas, abala gabinetes!
Se, como dizia L�nin, o esquerdismo de movimentos como o MPL � "doen�a infantil do comunismo", o autoritarismo histri�nico do MBL � uma infantilidade de direita. Vai bem na inconsequ�ncia dos palanques. Mas a fun��o p�blica tem outras responsabilidades, como o compromisso com as atribui��es de cada poder, a formalidade dos atos, a precis�o das informa��es oficiais. S�o as chamadas liturgias do cargo. Sem elas, Holiday vai virar rapidamente mais um membro folcl�rico do centr�o.
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