Ex-secret�rio de Reda��o da Folha, jornalista, coautor de 'Como Viver em SP sem Carro', faz pesquisas no Warburg Institute, em Londres, com o apoio da Capes. Escreve �s segundas.
Doria � popular porque � bom zelador
Andr� Bueno - 30.mar.17/CMSP | ||
Prefeito Jo�o Doria na C�mara durante entrega do plano de metas de seu governo |
A neuroci�ncia tem mostrado que o ser humano tem opini�o pr�via sobre as coisas: diante de um objeto qualquer, forma sua avalia��o em uma fra��o de segundo (cerca de 1/200 para imagens, por exemplo). Depois vai buscar explica��es racionais para a decis�o. Isso vale para a compra da casa pr�pria, um novo romance ou pol�ticos. Jo�o Doria (PSDB) irrita os analistas pol�ticos desde que anunciou sua candidatura. Os eleitores, ao contr�rio, gostam de sua performance.
Sinal desse descompasso entre jornalistas e opini�o p�blica s�o vatic�nios de que o prefeito vai trope�ar em breve: erraram nas pr�vias do PSDB, na elei��o e na pesquisa Datafolha deste fim de semana (eu mesmo, neste espa�o, apostei que ele perderia nas duas etapas de 2016). Mesmo assim, analistas insistem: ele ter� dificuldades para manter a popularidade. Trata-se de uma obviedade: se n�o continuar sendo um bom prefeito aos olhos da maioria dos eleitores, vai cair nas pesquisas.
Uma outra pesquisa Datafolha, sobre as raz�es que levaram ao voto na elei��o do ano passado, mostrou que os eleitores deram a Doria a vit�ria no primeiro turno porque se encantaram principalmente com suas propostas para a sa�de. Pois ele tomou posse e em poucos meses apresentou resultados in�ditos na redu��o das filas de exames por imagem, para os quais falta infraestrutura na rede p�blica.
Feitos os diagn�sticos, aumenta a fila para as consultas de retorno. Agora ele ter� dificuldades, alertam os or�culos: sim, mas trata-se de um desafio muito mais simples, pois depende apenas de recursos existentes na rede p�blica.
Al�m da sa�de, a an�lise hist�rica das curvas de aprova��o em S�o Paulo revela sem sombra de d�vidas: a popularidade de um prefeito tem correla��o absoluta com o pre�o da passagem de �nibus. Doria congelou o Bilhete �nico. Desde aquele momento era previs�vel que ele terminaria o ano (ou o per�odo de congelamento da tarifa) com alta popularidade.
Os or�culos alertam para o fato de que isso exige mais subs�dios. �bvio, mas a solu��o � simplesmente uma quest�o de prioridade, semelhante � que faz a dona de casa economizar em tomate para gastar em frango.
Por fim, outra coisa que irrita muito os que n�o gostam de Doria � sua fantasia semanal de gari. S�o provavelmente pessoas que adoravam ver Lula e Dilma vestidos de petroleiros, sujando a m�o no �leo. Cada um curte a fantasia que admira. Mas a participa��o de autoridades na limpeza das ruas � pr�tica elogi�vel: T�quio era uma cidade suja at� os anos 1950, fez uma revolu��o cultural nessa �rea, que envolveu levar �s ruas ricos e pobres para fazerem zeladoria de suas quadras. � algo simb�lico que, mantido com persist�ncia, pode mudar o nojo que s�o nossas ruas.
O que me parece que falta aos analistas e � opini�o p�blica em geral � a capacidade de perceber que Doria pode estar quebrando um paradigma da administra��o p�blica brasileira: a de que zeladoria n�o d� votos. A aprova��o de Gilberto Kassab (PSD) no primeiro mandato (o da Cidade Limpa, 2006-2008) deu todos os sinais de que um prefeito zelador pode ser popular. E essas atividades (agora reunidas sob o nome Cidade Linda) custam muito menos do que grandes realiza��es. S�o perfeitas para um tempo de crise or�ament�ria, como os analistas garantem que estamos vivendo.
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