Ex-secret�rio de Reda��o da Folha, jornalista, coautor de 'Como Viver em SP sem Carro', faz pesquisas no Warburg Institute, em Londres, com o apoio da Capes. Escreve �s segundas.
Amaz�nia morre e os jornais n�o veem
Ayrton Vignola - 17.mai.2005/Folhapress | ||
�rea desmatada na Amaz�nia, no Par� |
Os cat�licos que foram a missas desde a Quarta-feira de Cinzas notaram que a Igreja no Brasil est� bem preocupada com a destrui��o do meio-ambiente no pa�s. Pelo segundo ano consecutivo, a entidade dos bispos (a CNBB) alerta para a urg�ncia da preserva��o do planeta e dos biomas brasileiros na Campanha da Fraternidade, realizada anualmente nas semanas que antecedem a P�scoa.
N�o � para menos: a devasta��o das florestas brasileiras voltou a disparar depois de uma queda entre 2005 e 2010. A redu��o desse per�odo serviu como uma luva para a propaganda da candidatura presidencial de Dilma Rousseff, em 2010, mas, como tudo em seu governo, era falsa. Tanto que, ao se candidatar � reelei��o, em 2014, impediu o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) de divulgar os n�meros de desmatamento da Amaz�nia, para evitar que a mentira se tornasse conhecida da opini�o p�blica. A omiss�o for�ada de estat�sticas oficiais n�o teve at� hoje a puni��o devida.
Como j� disse no passado em dois artigos para a Folha, sobre a devasta��o da Amaz�nia, com o mesmo t�tulo de hoje (em 2011 e em 2014 ), o jornalismo n�o tem se revelado um meio eficiente para alertar a opini�o p�blica da urg�ncia da amea�a. Agora mesmo, enquanto todos os olhos se voltam para Curitiba, o agroneg�cio brasileiro volta a golpear nosso maior patrim�nio natural como "nunca antes na hist�ria deste pa�s"...
Ao longo dos s�culos anteriores, a explora��o destrutiva fazia mal � floresta, mas, de t�o grande, ela dava sinais de resili�ncia. Nos �ltimos anos, no entanto, o sistema clim�tico amaz�nico d� sinais de fal�ncia, como alertou em 2014 um dos seus maiores estudiosos, o cientista Ant�nio Nobre (do INPE). At� aquele ano, mais de 40% da Amaz�nia j� tinham sido destru�dos de forma irrevers�vel.
Entre outros sintomas, a capacidade de reter �gua na floresta e devolver grande parte dela para o ar na forma de chuva se rompeu, o que explica as in�ditas secas na Amaz�nia (2005 e 2010). Tamb�m est�o amea�ados os chamados "rios a�reos", que transportam chuvas para o Sudeste pelo vento. E isto causou a longa crise h�drica que enfrentamos por v�rios anos.
A maior amea�a hoje � a indu��o da destrui��o pela s�rie de grandes obras iniciadas nos governos Lula e Dilma, das quais Belo Monte est� longe de ser exemplo �nico (o plano oficial prev� cerca de 100 hidrel�tricas) ao mesmo tempo em que o Minist�rio do Meio-Ambiente sofre com uma s�rie gest�es fracas, que evitam o enfrentamento.
O resultado � expresso pelos n�meros oficiais: a elimina��o total da floresta correspondeu a cinco vezes o tamanho da cidade de S�o Paulo (uma das maiores e mais espalhadas do mundo) e a curva aponta para cima: o crescimento � o maior desde o ano 2000.
Quem acompanha os estudos do INPE v� que as �reas ind�genas s�o as �nicas que resistem � devasta��o. Para eliminar esse �ltimo basti�o, o governo Temer nomeou um ministro da Justi�a que, depois de criticar a Lava Jato, atacou os direitos ind�genas que tem por miss�o preservar.
Se a imprensa, a opini�o p�blica e os pol�ticos preocupados com o ambiente n�o conseguem reverter essa destrui��o suicida, quem sabe a Igreja alerta a Deus, que dizem ser nosso compatriota, sobre o que o Brasil est� fazendo com a Amaz�nia e outros dons da Cria��o.
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