Ex-secret�rio de Reda��o da Folha, jornalista, coautor de 'Como Viver em SP sem Carro', faz pesquisas no Warburg Institute, em Londres, com o apoio da Capes. Escreve �s segundas.
A corrup��o intoxica at� quem a combate
Ueslei Marcelino - 30.set.2015/Reuters | ||
Trabalhador pinta tanque da Petrobras em Bras�lia |
Um dos males mais graves da corrup��o � que sua indignidade afronta de tal forma a opini�o p�blica que toma contornos maiores do que de fato tem e assim a sociedade passa a consider�-la a causa de todos os problemas, o que n�o �, e ver sua elimina��o como a panaceia universal, o que tampouco �.
O caso mais claro � o que aconteceu com a Petrobras: a empresa foi ao buraco por erros da administra��o Lula e Dilma que pouco t�m a ver com a corrup��o. O controle demag�gico dos pre�os de combust�vel tirou cerca de R$ 400 bilh�es de valor de mercado da empresa entre 2008 e 2016. A corrup��o, estima-se, roubou cerca de R$ 10 bilh�es (proje��es nos EUA falam de US$ 20 bi, ainda assim pouco perto do que a incompet�ncia administrativa provocou).
No entanto, o Brasil discute h� tr�s anos os casos de desvio de dinheiro da petroleira sem falar das pol�ticas de pre�o, que t�m impacto 40 vezes maior. Por isso mesmo, nestes �ltimos meses, a companhia voltou a agir como biruta, reduzindo pre�os poucas semanas antes do petr�leo subir; para em seguida aumentar e diminuir...
Os est�mulos a empresas e setores da economia, que alegadamente deveriam aquecer o PIB, geraram preju�zos bilion�rios. A venda de medida provis�ria, com favorecimento tribut�rio a empresas automobil�sticas, � crime; mas os cortes de impostos sem crit�rio, em todo o pa�s, tiram receita do Estado e efici�ncia de empresas, abalam a economia nacional de forma permanente. Embora muito se discuta o caso envolvendo o ex-presidente Lula e seu filho, s�o raras as refer�ncias � inefici�ncia dos incentivos fiscais para empurrar a economia.
Mesmo que nenhum centavo tivesse sido retirado de forma ilegal do BNDES, sua pol�tica de interven��o estatal em companhias espec�ficas, al�m de olig�rquica e paternalista, desregula a competi��o entre empresas, privilegia amigos do rei. � uma imoralidade legal, com efeitos danosos mais duradouros do que eventuais roubos de dinheiro p�blico.
Os governos Lula e Dilma fizeram o Estado ineficiente ampliar sua participa��o direta na economia com aumentos de custos que desequilibraram as finan�as p�blicas. Mesmo que n�o houvesse qualquer corrup��o nessa (falta de) estrat�gia, o or�amento brasileiro estaria deficit�rio e o pa�s exposto � inadimpl�ncia, como est�.
Se por hip�tese uma santa como Madre Tereza de Calcut� viesse governar o Brasil e enxugasse toda a corrup��o mas executasse o or�amento como fazia Dilma, o pa�s chegaria ao mesmo buraco em que estamos.
Outro caso paradigm�tico: desde o final dos anos 1970, o governo brasileiro j� sabia da inviabilidade de construir usinas hidrel�tricas eficientes na Amaz�nia. A ent�o ministra Dilma Rousseff desarquivou o plano herdado dos militares de constru��o dessas usinas. Belo Monte � o fruto mais evidente desse projeto que j� gerou outros v�rios monstrengos a um custo somado de v�rias dezenas de bilh�es. Mas o pa�s discute apenas a acusa��o de que uma empreiteira pagou R$ 35 milh�es para entrar na lamban�a. � grave, mas � marginal perto do erro de construir hidrel�tricas ineficientes a custo monumental em dinheiro e destrui��o do patrim�nio ambiental do pa�s.
A corrup��o � um veneno. Mas seu maior efeito t�xico � o de nos tirar a vis�o do que � ainda mais grave para a economia do pa�s.
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