Ex-secret�rio de Reda��o da Folha, jornalista, coautor de 'Como Viver em SP sem Carro', faz pesquisas no Warburg Institute, em Londres, com o apoio da Capes. Escreve �s segundas.
Bilhete �nico, cobradores e assaltos
Moacyr Lopes Junior/Folhapress | ||
Com Bilhete �nico na m�o, o prefeito Jo�o Doria passa por catraca em terminal de �nibus da zona sul |
Depois de algumas semanas com notici�rio concentrado em a��es de zeladoria (limpeza de ruas e guerra ao picho), importantes, sem d�vida, a Prefeitura de S�o Paulo come�a a falar da quest�o realmente decisiva em administra��es municipais paulistanas: �nibus. Nos �ltimos dias, sa�ram an�ncios de que est� sendo preparado um corredor inteligente (chamado BRT) na zona Sul; que a administra��o planeja a privatiza��o da gest�o do Bilhete �nico e a elimina��o dos cobradores. �timo.
A concess�o do bilhete �nico � iniciativa privada poder� render um bom dinheiro. Mas pode ser ainda mais valiosa para as empresas financeiras se incluir os outros munic�pios da Grande S�o Paulo, onde uma grande parcela da popula��o vem para a capital diariamente. A arrecada��o ser� maior e a "compensa��o" �nica e mais simples dar� escala ao comprador. Cabe � prefeitura e ao governo do Estado liderarem a negocia��o para criar uma autoridade metropolitana, come�ando pela unifica��o da bilhetagem.
� bom saber tamb�m que a Prefeitura avan�a no plano de elimina��o dos cobradores. A mesma redu��o das transa��es com dinheiro vivo torna inexor�vel a elimina��o desses funcion�rios. No entanto, a proposta destacada pela Folha (em 6/2) � a mais confusa e ineficiente entre as v�rias em discuss�o na Prefeitura: aumentar a tarifa para quem paga com cash aumenta a lista de pre�os; d� aos cr�ticos a chance de acusar um aumento da passagem e cria uma justificativa para perpetuar o cobrador.
O mais prov�vel � que, como ocorre em outras metr�poles, a administra��o opte por zerar ou reduzir a quantidade de ve�culos em que se pode pagar a viagem com dinheiro, enquanto a maioria passa a aceitar s� pagamento com cart�o. Para n�o ficar esperando mais tempo no ponto por um ve�culo "com dinheiro", os usu�rios carregam seu bilhete antes ou, no futuro, usar�o cart�o de cr�dito/d�bito.
H� uma raz�o adicional para eliminar completamente os pagamentos com dinheiro nos coletivos: eles s�o causa de assaltos. Dados do Brasil e do mundo mostram uma correla��o exata entre a redu��o do percentual de passagens pagas com dinheiro e a queda do n�mero de assaltos a �nibus. Esse dado vem sendo observado em S�o Paulo desde a implanta��o do bilhete �nico, em 2004, e � estranho que n�o seja amplamente divulgado, em defesa da seguran�a dos usu�rios e como argumento irrespond�vel pela elimina��o dos cobradores.
At� a ado��o do Bilhete �nico, 100% das passagens eram pagas com dinheiro; depois, esse �ndice caiu para cerca de 40% (em 2005) e o n�mero de assaltos caiu na mesma propor��o. As curvas baixaram ano a ano de forma id�ntica. Hoje, s� 6% dos passageiros pagam a viagem com dinheiro. E os assaltos correspondem a 3% dos registrados em 2003.
Essa rela��o n�o ocorre apenas no Brasil: a revista brit�nica "The Economist" noticiou (7/1), em reportagem que relaciona o aumento da seguran�a p�blica � redu��o da circula��o de dinheiro vivo, que os assaltos a �nibus em Londres ca�ram 56% entre 2013 e 2015, "coincidindo com a redu��o no n�mero de pagamentos de passagens em cash". Aqui, como l�, acabar com o cobrador e com pagamentos em dinheiro � fundamental n�o s� pela economia, mas tamb�m para a seguran�a dos usu�rios.
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