Ex-secret�rio de Reda��o da Folha, jornalista, coautor de 'Como Viver em SP sem Carro', faz pesquisas no Warburg Institute, em Londres, com o apoio da Capes. Escreve �s segundas.
Carro el�trico � cigarro com piteira
Os carros el�tricos e h�bridos foram estrelas do recente Sal�o do Autom�vel de S�o Paulo. Todas as montadoras tinham algo para mostrar em propuls�o alternativa, sugerindo a imin�ncia de uma revolu��o tecnol�gica que permitiria a sobreviv�ncia do autom�vel sem os danos da polui��o.
Poucos dias ap�s o encerramento do evento, no entanto, a Folha noticiou que "Avan�o no carro el�trico n�o anima motoristas americanos". Por diversas raz�es, os novos motores n�o atraem, apesar de come�arem a chegar ao mercado op��es com pre�os competitivos.
O carro el�trico � a principal tentativa de sobreviv�ncia de um produto em fase terminal. � como o cigarro com piteira ou baixo teor de nicotina, com que a ind�stria do tabaco enganou a opini�o p�blica no �ltimo quarto do s�culo 20, um produto menos agressivo, mas que causava os mesmos c�nceres.
A ind�stria automobil�stica j� encara um futuro em que carros individuais ser�o produtos sem atra��o para os consumidores e sem lucratividade para os produtores. Os pre�os e as margens de lucro caem em todo o mundo, acompanhando a redu��o da demanda nos pa�ses mais desenvolvidos. As grandes montadoras querem associar sua imagem � mobilidade e n�o mais ao autom�vel, oferecendo diferentes op��es de novos produtos e servi�os.
Esse movimento, por�m, � feito de forma amb�gua: ainda que vejam o futuro p�s-carro, n�o querem perder a chance de aproveitar a demanda onde ela ainda existe nos pa�ses em desenvolvimento, como Brasil, China, R�ssia e, em seguida, pa�ses da �frica.
� um marketing esquizofr�nico que, mais uma vez, reproduz os movimentos da ind�stria do tabaco: depois que ficou clara a rela��o do cigarro com o c�ncer, as grandes multinacionais do setor criaram um produto de transi��o (com baixo teor de nicotina), para confundir a opini�o p�blica informada dos pa�ses desenvolvidos, e apostaram suas fichas no terceiro mundo. Hoje o consumo de cigarros na China � um dos maiores problemas de sa�de p�blica no planeta, um crime contra a humanidade.
Aparentemente, o mercado norte-americano n�o se deixou seduzir pelo carro com piteira, ops, el�trico. O consumidor preocupado com a sustentabilidade percebe que a polui��o � apenas um dano do autom�vel, enquanto os outros seguem intocados. J� o consumidor que n�o foi convencido dos problemas, n�o tem raz�o para trocar uma tecnologia centen�ria por outra ainda por se consolidar.
Todas as grandes metr�poles t�m um n�mero de carros maior do que cabe em suas ruas. S�o Paulo � um exemplo perfeito: tem mais de 7 milh�es de autom�veis emplacados, mas apenas cerca de 10% deles circulam diariamente; quando mais gente tira seu ve�culo da garagem na mesma hora, a cidade para. Por isso, a velocidade do deslocamento no tr�nsito das grandes cidades � pouco maior que o do pedestre, semelhante ao da charrete e menor do que o de bicicleta, todas tecnologias antigas.
E a� reside a mentira de quem tenta vender os novos padr�es de propuls�o como solu��o: mesmo que todos os ve�culos atualmente em circula��o fossem trocados por autom�veis el�tricos e aut�nomos, o congestionamento seguiria igual. Simplesmente n�o h� lugar para eles, mesmo quando n�o poluem. Esse dinossauro vai ser extinto por falta de espa�o.
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