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Ex-secret�rio de Reda��o da Folha, jornalista, coautor de 'Como Viver em SP sem Carro', faz pesquisas no Warburg Institute, em Londres, com o apoio da Capes. Escreve �s segundas.
Reduzir o pre�o da gasolina � uma burrice intoler�vel
A Petrobras reduziu o pre�o da gasolina, mostrando que seus dirigentes n�o entenderam nada do que aconteceu no mundo e no Brasil ao longo dos �ltimos anos. � um erro estrat�gico grotesco da nova gest�o da estatal brasileira, sob o governo Temer, que repete a matriz com que Lula e Dilma destru�ram a empresa.
Neste momento, a imprensa (t�o cr�tica aos governos do PT) aprova a redu��o como se marcasse a independ�ncia da nova administra��o. Pobre opini�o p�blica nacional que tem como porta-voz um jornalismo tacanho. Quando o monop�lio estatal de petr�leo quebrar novamente, os analistas v�o ficar com a mesma cara com que assistiram a vit�ria de Donald Trump. "Ah �, �?!"
A Petrobras est� falida. Se n�o fosse uma companhia estatal, seria vendida a pre�o de banana para uma empresa saud�vel, que demitiria a maior parte de seus funcion�rios, venderia seus pr�dios fara�nicos e usaria seu patrim�nio em po�os de petr�leo e refinarias para pagar as d�vidas. Como pertence ao Estado brasileiro, ela � salva com dinheiro do tesouro, diretamente, ou, indiretamente, atrav�s de financiamentos do BNDES, e segue empregando mais funcion�rios do que necessita e tomando decis�es que beneficiam a pol�tica econ�mica do governo, embora destruam o valor da companhia.
Por duas vezes nas �ltimas semanas, a nova dire��o da Petrobras anunciou redu��es do custo dos combust�veis nas refinarias, alegando que o pre�o para o consumidor final cairia (n�o � verdade: os postos n�o repassam a redu��o para o pre�o final). O resultado dessa medida � um impacto positivo na infla��o e uma queda das receitas da empresa. Bom para o governo, p�ssimo para a Estatal, exatamente como ocorreu durante os 13 anos do governo petista.
A alega��o da empresa sob nova administra��o � que, conforme ocorre nos Estados Unidos, o pre�o da gasolina na bomba vai oscilar com o petr�leo no mercado internacional. OK, mas os pre�os praticados pelos pa�ses produtores tradicionais de petr�leo s�o menores do que os necess�rios para extra��o da mat�ria prima no Brasil (mais cara porque � predominantemente submarina e, agora, cada vez mais oriunda de �guas profundas, o car�ssimo petr�leo do pr�-sal). Ou seja, quando cai o pre�o internacional do �leo, aumenta o preju�zo da Petrobras (do Brasil, em verdade, uma vez que a empresa � estatal).
A melhor solu��o para esse d�ficit estrutural seria reduzir a extra��o de petr�leo do pr�-sal e importar gasolina ao pre�o internacional, barato. Mas, se o nacionalismo brasileiro exigir a produ��o deficit�ria, cobrar do consumidor um pre�o final suficiente para pagar os custos da extra��o. Seria o caso de perguntar ao eleitor brasileiro: voc� quer ser cidad�o de pa�s produtor de petr�leo, como Lula e Dilma prometeram? Ent�o pague os custos na bomba e no pre�o final dos produtos que t�m combust�veis na sua cadeia de produ��o ou distribui��o.
O resultado, neste caso, ser� uma gasolina mais cara, talvez em torno de R$ 10,00 por litro, se computados todos os custos. O "bilhete premiado", slogan do estelionato lulista, custa mais do que o pre�o internacional do petr�leo. Por tudo isso, quando a Petrobras, sob governo Temer, reduz o custo dos combust�veis derivados de petr�leo, comete um erro estrat�gico para a empresa, pois se ela aumentasse os pre�os poderia crescer sua margem de lucro.
A medida tamb�m representa um desservi�o ao mundo e ao meio ambiente, uma vez que a gasolina barata incentiva o uso do carro particular, aumenta o congestionamento nas grandes cidades brasileiras e as emiss�es de gases de efeito estufa. Por fim, a redu��o do custo de combust�veis nas refinarias faz mal para a ind�stria do �lcool, menos poluente: quanto mais barata a gasolina, menos competitivo o etanol.
Se a not�cia da queda do pre�o da gasolina tivesse sa�do em editorias de Meio Ambiente, os jornais provavelmente teriam prestado aten��o ao efeito negativo que a redu��o poder� ter, por aumentar a demanda e o uso de um combust�vel f�ssil e altamente poluente.
Certamente teria mais destaque o fato de que ao amea�ar o �lcool, a pol�tica de pre�os da Petrobras deve reduzir o consumo e a pr�pria sustentabilidade da cadeia de produ��o de um combust�vel que n�o contribui para o "efeito estufa", mas � totalmente dependente de compras estatais.
Com tudo somado, o efeito da redu��o de pre�os � ruim para o pa�s: a Petrobras vender� mais gasolina no mercado interno (receber� reais para isso); vai ter menos combust�vel para exportar (receber� menos d�lares); vamos ter mais polui��o e talvez um uso ainda maior de carros particulares para o deslocamento dos brasileiros; o �lcool, menos poluente, ficar� mais caro, proporcionalmente, e deve vender menos, deixando de beneficiar o ar das grandes cidades.
Se a Petrobras subisse o pre�o da gasolina, teria uma receita maior em reais e o consumo cairia, liberando mais gasolina para exporta��o (recebendo d�lares por ela); o �lcool ficaria mais competitivo, cresceria seu consumo, geraria mais empregos no campo e o ar das cidades ficaria melhor.
Moral da hist�ria: no curto prazo, a medida anunciada pela diretoria da petroleira estatal pode ser boa para a empresa (aumenta o consumo de gasolina nas pr�ximas semanas) e para o governo (reduz a press�o inflacion�ria).
Em m�dio e longo prazos, no entanto, � ruim para a companhia (reduz suas receitas); para o governo (tem que cobrir parte do d�ficit da estatal; deixa de receber uma receita extra de impostos sobre o combust�vel mais caro) e para o Pro�lcool; para a polui��o das grandes cidades e para o aquecimento global. Em outras palavras: reduzir o pre�o da gasolina � uma burrice intoler�vel, que o Brasil j� assistiu nos �ltimos 13 anos e n�o deveria mais aceitar.
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