![leandro narloch](https://cdn.statically.io/img/f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/16341245.jpeg)
Jornalista, mestre em filosofia e autor do "Guia Politicamente Incorreto da Hist�ria do Brasil", entre outros. Escreve �s quartas.
Os trechos mais constrangedores da obra de Paulo Freire
Bel Pedrosa - 18.abr.1994/Folhapress | ||
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O educador Paulo Freire durante entrevista � Folha, em 1994 |
Paulo Freire morreu h� 20 anos, mas ainda � um dos autores mais lidos e citados nas aulas de pedagogia do Brasil. Eis um bom momento para lembrar alguns trechos n�o exatamente louv�veis de seus livros.
"Pedagogia do Oprimido" foi publicado em 1968. � um livro datado, escrito no calor da milit�ncia comunista contra a ditadura militar. Tudo ali gira em torno de "elites opressoras" e "povo oprimido" —um marxismo grosseiro que mesmo naquela �poca j� estava obsoleto.
Alguns trechos de "Pedagogia do Oprimido" d�o a impress�o de que Paulo Freire foi professor de Dilma Rousseff. S�o t�o incompreens�veis quanto os discursos da ex-presidente:
Na verdade, n�o h� eu que se constitua sem um n�o-eu. Por sua vez, o n�o-eu constituinte do eu se constitui na constitui��o do eu constitu�do. Desta forma, o mundo constituinte da consci�ncia se torna mundo da consci�ncia, um percebido objetivo seu, ao qual se intenciona. Da� a afirma��o de Sartre, anteriormente citada: "consci�ncia e mundo se d�o ao mesmo tempo".
Paulo Freire tinha um gosto especial por transformar ditadores e assassinos em mestres da educa��o. Fidel Castro, Che Guevara, L�nin e Mao Ts�-Tung s�o refer�ncias frequentes em "Pedagogia do Oprimido". Fidel aparece como exemplo da lideran�a baseada "num di�logo com as massas que dificilmente se rompe" e numa "empatia quase imediata entre as massas e a lideran�a revolucion�ria".
Che Guevara, guerrilheiro e carrasco de dissidentes no pres�dio de La Caba�a, ganha algumas p�ginas de pura adula��o, como neste trecho:
Foi assim, no seu di�logo com as massas camponesas, que sua pr�xis revolucion�ria tomou um sentido definitivo. Mas, o que n�o expressou Guevara, talvez por sua humildade, � que foram exatamente esta humildade e a sua capacidade de amar, que possibilitaram a sua "comunh�o" com o povo. E esta comunh�o, indubitavelmente dial�gica, se fez co-labora��o (sic).
Paulo Freire faz um certo contorcionismo verbal para defender a viol�ncia revolucion�ria. Cita um m�dico cubano para quem "a revolu��o implica em tr�s 'P' —Palavra, Povo e P�lvora". E abusa da poesia para concluir que a viol�ncia dos guerrilheiros na verdade n�o � viol�ncia, mas amor:
Inauguram a viol�ncia os que oprimem, os que exploram, os que n�o se reconhecem nos outros; n�o os oprimidos, os explorados, os que n�o s�o reconhecidos pelos que os oprimem como outro. (...)
Na verdade, por�m, por paradoxal que possa parecer, na resposta dos oprimidos � viol�ncia dos opressores � que vamos encontrar o gesto de amor. Consciente ou inconscientemente, o ato de rebeli�o dos oprimidos, que � sempre t�o ou quase t�o violento quanto a viol�ncia que os cria, este ato dos oprimidos, sim, pode inaugurar o amor.
Um ano antes de sua morte, em 1996, Paulo Freire publicou "Pedagogia da Autonomia". O livro tem menos cita��es a l�deres comunistas, mas reproduz as mesmas teses de "Pedagogia do Oprimido". Como � comum hoje em dia, especialmente entre professores de hist�ria, Freire n�o v� diferen�a entre doutrina��o e educa��o. Diz com todas as letras que seu objetivo � criar um ex�rcito de revolucion�rios:
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Uma das quest�es centrais com que temos de lidar � a promo��o de posturas rebeldes em posturas revolucion�rias que nos engajam no processo radical de transforma��o do mundo. A rebeldia � ponto de partida indispens�vel, � deflagra��o da justa ira, mas n�o � suficiente. A rebeldia enquanto den�ncia precisa se alongar at� uma posi��o mais radical e cr�tica, a revolucion�ria, fundamentalmente anunciadora.
Em resumo, o que o pedagogo recomendava era muita doutrina��o e pouqu�ssimo conte�do. De fato, Paulo Freire tem todo o m�rito em ser considerado o patrono da atual situa��o da educa��o brasileira.
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