Laura Carvalho � professora do Departamento de Economia da FEA-USP com doutorado na New School for Social Research (NYC). Escreve �s quintas-feiras.
Recupera��o da economia ser� a mais lenta da hist�ria
A revis�o dos n�meros do PIB feita pelo IBGE na sexta-feira (1�) indicou que a recess�o de 2015-2016 n�o foi a mais profunda da hist�ria.
De acordo com os n�meros rec�m-divulgados, a economia encolheu 8,2% na crise de 2015-2016, ante queda de 8,5% do PIB na de 1981-1983. Os dados anteriores apontavam contra��o de 8,6% na crise mais recente.
A diferen�a de tr�s d�cimos � pequena, mas suficiente para interditar no notici�rio e nas an�lises econ�micas a express�o "a maior crise da nossa hist�ria". O problema � que, mesmo que n�o tenha sido a mais profunda, a crise dos �ltimos anos parece estar sendo sucedida pela mais lenta das recupera��es.
Tomemos como par�metro as tr�s maiores crises medidas pelo Codace (Comit� de Data��o de Ciclos Econ�micos).
A primeira —essa sim a maior de nossa hist�ria— teve in�cio no primeiro trimestre de 1981 e durou nove trimestres, com o vale (que costumamos chamar de fundo do po�o) tendo sido atingido no primeiro trimestre de 1983. Dali em diante, a economia levou sete trimestres para retornar ao PIB pr�-crise, que s� � superado no fim de 1984.
A segunda entre nossas maiores recess�es foi a que vigorou entre o terceiro trimestre de 1989 e o primeiro trimestre de 1992. A queda nesse caso foi mais longa, durou 11 trimestres, mas sua magnitude foi um pouco menor —7,7% no acumulado. Ainda assim, a velocidade de recupera��o foi a mesma que na crise anterior: no fim de 1993, ap�s sete trimestres, a economia atingiu seu n�vel pr�-crise.
Segundo o Codace, a crise de 2015-2016 teve in�cio no segundo trimestre de 2014 e durou 11 trimestres, ficando empatada com a recess�o de 1989-1992 no posto de "mais longa da nossa hist�ria". Passados tr�s trimestres desde o fundo do po�o, que foi atingido em dezembro de 2016, a economia ainda encontra-se em um n�vel 6,2% menor do que o que vigorava em mar�o de 2014.
PIB - Trimestre X trimestre imediatamente anterior, em %
Para que a recupera��o fosse finalizada, como nas recess�es de 1981-83 e 1989-92, em sete trimestres, a economia teria que crescer 6,6% em um ano. Nem otimistas contratados ousariam prever uma acelera��o de tal n�vel, que ocorreu pela �ltima vez quando o pa�s viveu seu melhor ano da hist�ria recente, em 2010.
Se a economia brasileira crescer 0,9% em 2017 e 2% ao ano a partir de 2018, por exemplo, o PIB pr�-crise s� seria atingido em dezembro de 2021, somando nada menos do que 20 trimestres de recupera��o.
E, mesmo se o crescimento a partir de 2018 fosse de 3%, como projetam aqueles que ignoram os efeitos contracionistas que o teto de gastos e a contra��o cada vez maior dos investimentos p�blicos ter�o sobre a economia, o PIB pr�-crise s� seria superado em junho de 2020 —14 trimestres depois de o fundo do po�o ter sido atingido.
Enquanto o governo tenta vender tartaruga por lebre, os dados do IBGE mostram que, na recupera��o mais lenta da hist�ria, 75% dos empregos criados s�o informais —sem carteira assinada ou por conta pr�pria— e que o restante foi gerado no setor p�blico.
Com a popula��o ciente de que seu padr�o de vida n�o est� melhorando, o candidato que se propuser a defender o "legado de Temer" nas elei��es de 2018 j� sai derrotado.
Livraria da Folha
- Cole��o "Cinema Policial" re�ne quatro filmes de grandes diretores
- Soci�logo discute transforma��es do s�culo 21 em "A Era do Imprevisto"
- Livro de escritora russa compila contos de fada assustadores; leia trecho
- Box de DVD re�ne dupla de cl�ssicos de Andrei Tark�vski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade