Preciso de uma desculpa para defender Lula aqui no pedaço do esporte.
Recorro a dois grandes Lulas, o técnico do Santos no auge, e o menos conhecido goleiro do Corinthians em fins de 1960, que substituiu o tricampeão Félix duas vezes na seleção.
Pronto! Aqui também se fala de futebol.
Dito isso, passemos ao mais famoso deles, o tripresidente.
Ele tem apanhado coisa que sirva nesta Folha, do editorial aos colunistas.
Alguém precisa discordar, mesmo sob risco de ser visto como bajulador.
Como é gostoso bater no ex-metalúrgico que para ter título universitário precisou ser o de Doutor Honoris Causa —hoje já são quase 40 títulos—, da Universidade Federal de Pernambuco, onde nasceu, até a Universidade de Coimbra, em Portugal, ou de Salamanca, na Espanha, ou, ainda, na Sciences Po, de Paris.
Quando Lula disse que "o conceito de democracia é relativo" ao se referir à Venezuela, apanhou feito boi ladrão.
Embora pudesse chamar em seu auxílio o gênio Albert Einstein, que foi mais longe ao dizer que "nada é absoluto, TUDO é relativo", o presidente apanhou com méritos, porque defender Nicolás Maduro é dose.
Agora, então, ao ligar Hitler aos judeus sem tomar o cuidado de contextualizar com a delicadeza que o tema exige, levou pancada até mais não poder por aqui —e diga-se que, pelo mundo afora, com exceção do governo terrorista de Israel, a repercussão chegou perto de zero.
Holocausto houve um e ponto.
Lula não fez referência explícita a ele, mas nem precisa ser malicioso para tratar a fala como se o tivesse mencionado.
Genocídios sim, houve diversos na história da humanidade, e é inegável que num governo como o israelense, que abriga ministros capazes de dizer "Estamos lutando contra animais e agindo de acordo", como disse o da Defesa, Yoav Gallant, restam poucas dúvidas sobre seus desejos em relação a Gaza.
Há diferença entre quantidade e qualidade.
Seis milhões de mortos assassinados em campos de concentração é algo que jamais será esquecido e que nunca poderá ser citado de passagem.
Já o método de Bibi Netanyahu no campo de concentração a céu aberto que estabeleceu em Gaza pouco difere dos métodos nazistas. Sem gás.
Tivesse dito o humanista Lula que "Netanyahu está para os palestinos como Hitler esteve para os judeus" e os protestos estariam limitados aos bolsonaristas em busca de encobrir o depoimento de seu líder à PF nesta quinta-feira (22).
Sempre que se falar em cessar o morticínio em Gaza, haverá de se exigir a devolução dos reféns nas mãos terroristas do Hamas.
E parece mentira que cause mais indignação a frase infeliz que o parágrafo da magistral coluna de Dorrit Harazin, com depoimento da pediatra americana Seema Jilani:
"Ele tinha o braço e a perna direita arrancados por uma bomba. A fralda estava ensanguentada e se mantinha no lugar, apesar de não haver mais perna. Eu o tratei primeiro no chão, pois não havia macas disponíveis (...). A seu lado havia um homem emitindo os últimos respiros. Estava ativamente morrendo havia 24 horas, com moscas por cima (...) O bebê de 1 ano sangrava profusamente no tórax… Não havia nem respirador, nem morfina, nem medidor de pressão em meio ao caos. (...) Um cirurgião ortopédico envolveu com gaze os tocos da criança e comunicou que não a levaria de imediato para o centro cirúrgico porque havia casos mais urgentes".
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