Voltemos a olhar para a metade cheia do copo.
Em tempos de justificável pessimismo, não custa olhar para a crise, como há milênios fazem os chineses.
A pandemia oferece de mãos –bem lavadas, por favor, diversas vezes ao dia– beijadas a possibilidade de adequar o calendário brasileiro do futebol ao que se pratica, há décadas, no mundo civilizado do ludopédio, com adesões mais recentes de centros importantes da América Latina.
Tudo indica que o vírus liquidou os anacrônicos campeonatos estaduais nos moldes em que são disputados até serem tardiamente interrompidos.
Esqueça que corintianos, cruzeirenses, botafoguenses e vascaínos têm motivos para comemorar a interrupção.
Abandone sentimentos clubísticos apenas até o fim da leitura da coluna –se a rara leitora e o raro leitor tiverem paciência para tanto–, deixe de lamentar a suspensão dos jogos como são-paulina ou são-paulino com motivos para sonhar com o título, e pensemos juntos: adiada a inútil Copa América, postergadas as eliminatórias para a Copa do Mundo e considerando-se que a pandemia não dará trégua até julho, por que não começar o Brasileiro no segundo semestre e terminá-lo no meio do ano que vem, adotar a temporada 2020/2021?
Não venha, por favor, com o argumento do verão, porque os campeonatos estaduais já são disputados durante os meses mais quentes do ano. Bastará começar os jogos em horários mais amenos.
Feito isso, olhe que beleza: assim como na maior parte do planeta, por aqui também poderemos respeitar as datas Fifa e paralisar o campeonato quando houver jogos da seleção.
Com ajustes aqui e ali, será possível disputar o torneio mais importante do país apenas aos fins de semana, reservando os meios aos mata-matas nacionais e continentais.
De quebra, ainda será possível fazer pré-temporadas nos torneios de verão Europa afora, como muito antigamente faziam os melhores times brasileiros, porque, então, não existia o campeonato nacional.
Não adianta querer resolver o insolúvel. Buscar datas para terminar os estaduais conduzirá àquela situação, já vivida anos atrás, de alguns clubes terem de jogar dois, ou até três, jogos no mesmo dia.
Passado o tsunami que assola a Terra, tratado pelos sociopatas como chuvas de verão, tratemos de organizar os estaduais em novos moldes, ao longo de toda a temporada, sem os clubes que têm lugar nas competições nacionais e internacionais.
Sim, atenção: em nenhum momento aqui se propôs enterrar pura e simplesmente os estaduais. Ao contrário, sempre se quis vê-los durante todo o ano, apenas racionalizados.
Que esperança há do coronavírus ativar os dois neurônios dos cérebros encartolados, com o perdão do neologismo?
Pouca, quase nenhuma, mas sempre há a obrigação de tentar.
Pois já não temos milhares de arrependidos pelo que fizeram na eleição passada? Até entre políticos eleitos com votações recordes? Sejam bem-vindos.
Verdade que o capitão teve de dar uma canelada aqui, outra bola fora ali, pisar nela sem dó nem piedade, escorregar na cara do gol, xingar o juiz, até marcar dantescamente contra a própria rede no último domingo (15), ali pertinho do Mané Garrincha, para a torcida se dar conta de que o copo transbordou.
A regra é clara: quem treme na hora da decisão, incapaz de liderar o time, merece que a massa peça sua expulsão de campo.
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