![juca kfouri](https://cdn.statically.io/img/f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15146204.jpeg)
Tem mais de 40 anos de profiss�o. � formado em ci�ncias sociais pela USP. Escreve �s segundas, quintas e domingos.
Por triste ironia, recluso Jo�o Gilberto termina seus dias exposto
Jamais estive com Jo�o Gilberto. Nunca me cansei de ouvi-lo.
Uma vez, e apenas uma vez, por telefone. Foi assim: eu acabava de chegar em casa depois do trabalho e, tarde da noite porque participava do "Jornal da Globo", o telefone tocou.
Est�vamos �s v�speras da Copa do Mundo de 1994, nos EUA.
Atendi e do outro lado algu�m se apresentou falando baixinho: "Juca, aqui � Jo�o".
"Que Jo�o?", perguntei. "O Jo�o, Juca", ouvi de volta.
Quando ia devolver dizendo que conhecia muitos Jo�es, reconheci a voz do baiano ao mesmo tempo em que ele dizia pausadamente "Jo�o Gilberto". Imediatamente disse a ele que estava em p�, em posi��o de sentido e �s ordens.
Ent�o, Jo�o pediu: "Tenho certeza de que posso pedir isso a voc� e que voc� n�o ir� dizer para ningu�m que fui eu quem pediu. Mas diga a Parreira para mandar os jogadores pararem com essa frescura de entrar em campo de m�os dadas porque isso n�o tem nada a ver com os brasileiros".
N�o tive tempo de dizer goiaba, porque ele desligou.
A sele��o fazia campanha preocupante nas eliminat�rias e se deu as m�os na entrada em campo para o jogo disputado no Recife, contra o Paraguai.
Goleou por 6 a 0 e adotou a atitude da� por diante, na Copa, inclusive, que culminou com o tetra, porque apesar de eu transmitir o recado a Parreira dizendo que era de um g�nio da ra�a, o treinador se limitou a sorrir e n�o o transmitiu aos jogadores. Esqueci de contar, como tantos outros, o epis�dio em meu livro de mem�rias.
Conto aqui e agora, embora j� o tivesse revelado em meu blog quando Jo�o completou 80 anos e, recentemente, no programa de Pedro Bial, para lamentar que algu�m t�o discreto, famoso por interagir pouco, obsessivamente cioso de sua intimidade, esteja exposto como est� aos 86 anos, quando deveria apenas gozar das benesses de sua genialidade.
Bem que seus herdeiros poderiam se dar as m�os e parar com essa exposi��o injusta do magn�fico Jo�o como se o fizessem de bolinha de papel.
T�MULOS
Um dia o carioca n�o menos genial Vinicius de Moraes disse que S�o Paulo era o t�mulo do samba. Na verdade, disse, com raiva, para defender o amigo Johnny Alf que tocava numa boate paulistana sem o devido respeito dos frequentadores.
Outro Moraes, sem nenhum parentesco com o poeta, o paulista Alexandre, quando secret�rio da Seguran�a de S�o Paulo, determinou, fria e arbitrariamente, que os cl�ssicos estaduais fossem disputados com torcida �nica, medida j� decidida para a pr�xima temporada e que parece ter vindo para ficar, ao menos enquanto os tucanos seguirem mandando no Estado -no m�nimo at� dezembro de 2018.
Hoje ministro do STF, Alexandre de Moraes entra para a hist�ria como coveiro do futebol paulista.
Resta saber de onde ele plagiou a medida, porque da Inglaterra, certamente, n�o foi.
S�o Paulo passa a fazer jus ao t�tulo de t�mulo do futebol, a terra em que, quando n�o se sabe como resolver o problema, pro�be-se a maioria de desfrutar do espet�culo porque a minoria, embora facilmente identific�vel, causa transtornos.
A famosa paz dos cemit�rios.
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