Para onde caminha politicamente o mundo? A pergunta, excelente, me encontrou na forma de um convite para participar no maior debate televisivo em Portugal, resultante da enorme repercussão que a eleição brasileira de domingo passado (2) teve em terras lusas.
O ato eleitoral foi seguido em Portugal como se de uma escolha lusa se tratasse. Para quem não soubesse, e acabasse de aterrissar em uma qualquer cidade portuguesa, o ambiente não servia dúvidas.
Em qualquer boteco na Baixa de Lisboa a TV de serviço despejava a contagem dos votos, que era recebida por brasileiros e portugueses com igual entusiasmo. Sem qualquer esforço se poderia acreditar que Lisboa era São Paulo e o Porto, Belo Horizonte. Todos partilhando a casa comum da cidadania da língua.
Quem queria o Lula lá, cedo se rejubilou com a apuração dos votos na Lusitânia —onde o resultado foi conhecido bem mais cedo devido à distância entre fusos horários. "Já temos o Lula cá, vamos pôr o Lula lá", gritavam apoiadores adeptos do antigo presidente, entre a euforia e a ansiedade.
Mais tarde —bem tarde em Lisboa, só depois das 3h da madrugada—, quando se conheceu a inevitabilidade do segundo turno, os gritos de apoio de um e outro grupos de apoiadores se desvaneceram na noite.
A mídia portuguesa entregou à cobertura da eleição do presidente brasileiro o mesmo tempo, e provavelmente mais recursos, do que normalmente atribui à escolha do seu próprio presidente. Por que seria? A resposta se prende com duas razões principais.
A primeira —de que tanto falamos nesta coluna— é a importância social e econômica da enorme comunidade que não para de crescer. Muitas famílias escolheram Portugal para viver, sem por isso deixarem de se sentir em casa.
A segunda, consequência da primeira, é o aumento da interação dos brasileiros com a sociedade portuguesa. Sendo cada vez mais, eles cada vez mais interagem a vários níveis com os lusitanos. Há cada vez mais negócios e eventos que, mesmo tendo origem exclusivamente na comunidade brasileira, se completam e se tornam maduros na partilha com os portugueses e europeus.
Em um mundo onde os palcos de confronto político e de decisão econômica estão desmaterializados e descentralizados, a língua comum representa cada vez mais um território que funciona como unidade política.
Se pensarmos bem, o impacto que a eleição teve em Portugal e a cobertura midiática que gerou e continua a gerar são prova disso.
Tentando responder à questão "para onde politicamente caminha o mundo?", direi que é para um novo paradigma, no qual a democracia tradicional se enfraquece à medida que as decisões que afetam os cidadãos se tornam cada vez mais descentralizadas.
É nesse vazio, que os Estados ainda não conseguem preencher, que florescem os radicalismos que nos afligem, mas é também nele que está a solução para a democracia do futuro.
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