Termina hoje o Fórum da Paz de Paris.
Fóruns há pelo mundo.
Paris decidiu fazer o seu.
Chamou-o “da Paz”.
Num mundo marcado pela violência —não só bélica, mas também por comportamentos agressivos— é bem-vindo um espaço que estimula o diálogo, celebra a diversidade e acredita que, para resolver nossos problemas comuns, necessitamos de ações coletivas e de cooperação. Esta é a essência do multilateralismo.
O atual modelo de desenvolvimento tem evidenciado suas virtudes e seus problemas. Se, por um lado, a expectativa de vida dobrou e a mortalidade infantil caiu oito vezes em um século, por outro, os impactos socioambientais continuam enormes: quase um bilhão de pessoas passa fome, 68 milhões vagam pelo mundo em busca de um lugar para viver e o aquecimento global já ameaça países insulares que podem deixar de existir devido ao aumento do nível dos oceanos.
Se, por um lado, nunca estivemos tão avançados tecnologicamente, jamais a desigualdade foi tão grande. Este paradoxo tem gerado desconforto, indignação e conflitos que geram instabilidades econômica, social e política e que impedem avanços necessários para a humanidade.
Os desafios que temos nos dias de hoje —sociais, ambientais, econômicos e políticos— não dependem mais de decisões unilaterais, por mais rica e poderosa que seja uma nação. Nem serão resolvidos na base da força, nunca é demais lembrar.
Diante da complexidade do contexto global, o multilateralismo propõe pactos, parcerias e financiamento como alternativa. Políticas bilaterais podem até resolver o problema de curto prazo de algumas nações, mas, ao desdenhar do impacto de ações individuais dos países no planeta, estão apostando em riscos que podem atingi-los.
A ideia do Fórum da Paz é apresentar projetos que podem ser replicados pelo mundo e estimular o diálogo para o avanço de programas e políticas públicas, com capacidade de mudanças em escala.
O Programa Cidades sustentáveis é uma das duas iniciativas brasileiras —a outra é o Instituto Igarapé— selecionadas entre mais de 700 pelo mundo. O programa defende que, num contexto de retrocesso político em muitos países, as cidades sejam protagonistas de agendas importantes e tornem-se agentes de transformação da sociedade.
O compromisso de cidades com a agenda 2030 e com o Acordo de Paris, independentemente dos governos federais, pode fazer com que metas sejam atingidas e pode dar sentido a estes pactos.
Vale a pena destacar alguns projetos apresentados aqui no Fórum da Paz, de Paris.
A Helen Clark Foundation, instituição neozelandesa, tem uma iniciativa que surgiu a partir do ataque à duas mesquitas em Christchurch. Ela criou um guia para eliminar o conteúdo de ódio e violência na internet. A primeira ministra, Jacinda Arde, foi a responsável por estimular o projeto.
O Institute for Security Studies, preocupado com a governança global, propõe uma reforma no conselho de segurança da ONU visando a uma representação mais justa dos países, como maneira de mudar a lógica das decisões. A ideia é que o órgão seja mais representativo, com 26 membros dos cinco continentes, ao invés dos cinco membros permanentes e dez provisórios de hoje.
Já o Village Court Bangladesh, inspirado nas ações do Yunnus e do microcrédito nas comunidades, estimula o fortalecimento comunitário para redução da judicialização no país.
Todos eles compartilham a mensagem de que os problemas globais demandam soluções cooperativas, com participação e diálogo. As saídas dependem dessa forma de agir.
Se hoje termina o Fórum da Paz, inicia-se mais um ano de esperança de encontrarmos soluções para os desafios do mundo que sejam menos baseadas na lógica do conflito, da competição, da força do dinheiro, do interesse individual e mais concentradas nos valores de solidariedade, cooperação e empatia. Em síntese, precisamos de uma efetiva cultura de paz.
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