Escritor portugu�s, � doutor em ci�ncia pol�tica.
Escreve �s ter�as e �s sextas.
Prova nacional de pornografia
Tablets e iPads s�o uma b�n��o para pais modernos. Cen�rio recorrente: h� um jantar de amigos; os casais levam os filhos. Nas horas seguintes, ningu�m ouve as crian�as, ningu�m se preocupa com elas. Est�o todas com os rostos enfiados nos seus brinquedos eletr�nicos, jogando ou assistindo a filmes, uma forma de anestesia que � m�sica para os meus ouvidos.
Pena que nem todos os pais pensem da mesma forma. Um amigo, que at� apreciava o esquema, descobriu at�nito que a descend�ncia era silenciosa –em casa, no carro – porque consumia-se pornografia. N�o ser� caso �nico, aposto. Como responder a essa verdadeira epidemia?
Sugerindo calma ao pessoal e citando a revista "The Economist" sobre a mat�ria. Sim, a pornografia � onipresente na internet. Sim, crian�as e adolescentes conseguem ver imagens "hardcore" em seus tablets ou celulares que seriam impens�veis para gera��es passadas. Mas � preciso meter duas coisas na cabe�a.
A primeira � que a proibi��o da pornografia � uma quimera impratic�vel. O n�mero de p�ginas dedicadas ao neg�cio oscila entre 700 milh�es e 800 milh�es. Dif�cil dizer ao certo. Proibir um site no meio desse oceano � uma piada e, mais que isso, um incentivo para que surjam mais dez, ou cem, ou mil sites no minuto seguinte.
Mas a segunda mensagem � que os alarmismos sobre o assunto n�o encontram carimbo cient�fico. Tradicionalmente, afirma-se que a pornografia degrada as mulheres, contribui para a viol�ncia sobre as ditas e pode provocar danos irrepar�veis na cabe�a dos menores.
Infelizmente, os dados emp�ricos e os estudos a respeito n�o apoiam essas teses. Sobre a condi��o das mulheres, sobretudo no mundo desenvolvido, ela melhorou nas �ltimas d�cadas em todos os quesitos relevantes –representa��o social, participa��o laboral, poder pol�tico, n�vel salarial etc.
E, sobre os crimes sexuais, mais evid�ncias: a viol�ncia dom�stica ou os casos de viola��o, longe de subirem, desceram no Primeiro Mundo. Mesmo a gravidez adolescente, que a pornografia poderia promover, seguiu a mesma din�mica descendente. O que resta?
O dano psicol�gico em adolescentes. Que � igualmente duvidoso (para dizer o m�nimo). Se algum dano existe � o fato de a pornografia alimentar expectativas extravagantes na cabe�a dos mancebos sobre o ato sexual propriamente dito. S�o expectativas que, opini�o pessoal, a vida acabar� por meter no seu devido lugar.
Para a "Economist", a �nica forma de responder � epidemia � com aulas de educa��o sexual, nas quais a pornografia servir� de pretexto para discuss�es mais alargadas sobre a igualdade de g�nero, o uso de m�todos anticoncepcionais e bl�-bl�-bl�.
Com a devida v�nia, discordo. Parcialmente, � certo, mas discordo. Se a pornografia � erradic�vel e se existe um "consenso m�nimo moral" de que filmar o sexo n�o � o mesmo que um jogo de futebol, talvez a melhor forma de mostrar o lado "imoral" da fornica��o cin�fila seja traz�-la para a escola, sim, desde que o fen�meno seja estudado como estudamos f�sica, matem�tica, qu�mica e outras disciplinas "pesadas".
Imagino facilmente o curr�culo: o aluno teria aulas nas quais os grandes cl�ssicos da ind�stria seriam visionados. De igual forma, um conhecimento rigoroso de atores, produtores, diretores seria de estudo compuls�rio, exatamente como estudamos a tabela peri�dica em qu�mica ou a anatomia humana em biologia.
E, sobre as cenas propriamente ditas, um pouco de estat�stica seria incontorn�vel: o aluno deveria familiarizar-se com o n�mero de posi��es; a dura��o de cada ato; e, obviamente, usar gr�ficos e tabelas para estabelecer compara��es entre obras distintas.
No fim, tudo isso seria objeto de prova –de prefer�ncia, nacional– e com import�ncia decisiva para entrar na universidade.
Depois desse processo de "normaliza��o", s� casos irrecuper�veis ainda teriam vontade para consumirem em privado as mesmas imagens que derreteram os miolos durante horas e horas de estudo repetitivo e entediante.
Vem nos livros: n�o h� nada que mate o prazer proibido do que torn�-lo obrigat�rio.
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