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Colunista e membro do Conselho Editorial da Folha, � um dos mais importantes jornalistas brasileiros. Analisa as quest�es pol�ticas e econ�micas. Escreve aos domingos e quintas-feiras.
Suposi��o de que Dodge veio para salvar Temer ganha nova estatura
Pedro Ladeira - 18.set.2017/Folhapress | ||
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O presidente Michel Temer na cerim�nia de posse de Raquel Dodge na PGR |
A estreia da procuradora-geral da Rep�blica em expor sua orienta��o pessoal, e n�o mais como rescaldos do antecessor Rodrigo Janot, n�o resultou favor�vel a ela nem a n�s. A menos que Raquel Dodge apresente comprova��o, ao menos ind�cios aceit�veis, da novidade que disse, a suposi��o de que vem para salvar Michel Temer ganha nova estatura. N�o pode mais ser vista como precipitada ou interessada.
A meio dos motivos contr�rios � libera��o de Geddel Vieira Lima, preso em Bras�lia, Dodge aponta-o como l�der da organiza��o criminosa hoje central no notici�rio. A forma verbal "parece" atuar como chefe n�o altera o ineditismo da qualifica��o. Nem diminui os efeitos ben�ficos dessa novidade para Temer: dado como chefe, Geddel livra superiores hier�rquicos de tal acusa��o e, de quebra, teria embara�os para um acordo de dela��o premiada temida por Temer –como Bernardo Mello Franco registrou com outra formula��o, na Folha de sexta (20).
Geddel nunca foi considerado "o chefe". Mesmo a ideia de organiza��o, a que procuradores recorrem com facilidade porque os ajuda na explica��o do crime, al�m de aumentar as penas, n�o � correta nesse caso. Cada um dos incriminados integrantes do PMDB, seus doleiros e intermedi�rios � um livre-atirador que, para certos golpes, uniu-se a outros, mas seu objetivo de ganho era individual. Al�m da ambi��o desse ganho nada os aproximou. O perigoso Geddel � um desses h� 30 anos. Compuseram uma organiza��o, nem propriamente uma quadrilha. Sociedade, isso sim, ocasional mas frequente.
Com estilo diferente, s� Michel Temer. Usar intermedi�rios � o seu modo t�pico. Jos� Yunes, Eduardo Cunha, L�cio Funaro, Geddel Vieira Lima, Rocha Loures, Moreira Franco, Eliseu Padilha e outros, j� identificados ou ainda nas sombras, est�o citados nas investiga��es como pessoas acionadas por Temer para chegar a terceiros, com miss�o definida.
Os tr�s primeiros da lista distinguem-se pelo requinte de manter seus escrit�rios ao redor das instala��es do advogado Temer. Duros, afinal de contas, eram os tempos de uma caverna para quarenta. Com o avan�o da civiliza��o paulistana, cada um dos quatro tem a sua, mas pr�ximas todas para diminuir o risco –na explica��o de Funaro– de levar malas com dinheiro grosso entre os destinat�rios.
H�, de fato, e gravados, exemplos de ordens comprometedoras, dadas � maneira de chefe. N�o de Geddel ou de outro dos intermedi�rios. S�o assim: "Tem que manter isso, viu?". Ao que o ouvinte responde, obediente: "Todo m�s, todo m�s". Em outro momento, quando o ouvinte lamenta a perda da intermedia��o de Geddel e se refere � alternativa Rocha Loures, ouve a determina��o: "Fale com ele". � preciso saber se o deputado representa mesmo a Presid�ncia, se pode falar tudo com ele, e � tranquilizado: "Pode falar tudo. Fale com ele".
O grupo dos intermedi�rios n�o se ligou por sua conta, no entanto tem/tinha um elo comum chamado Michel Temer. N�o h� por que tirar-lhe essa honra, � falta das outras.
Empreendedor no mesmo ramo, A�cio Neves adotou o m�todo das intermedia��es. Mas, bom mo�o, deu um sentido familiar � atividade. Sua irm� abria caminho �s extors�es acobertadas como venda de im�vel, muito acima do valor; ou para pagar um advogado que a riqueza da fam�lia poderia quitar como n�s outros pagamos o cafezinho. O apanhador, "o mala" na nomenclatura especializada, era um primo. Um tio e um pol�tico t�m papel ainda mal definido, porque investigar a concorr�ncia de A�cio a Eduardo Cunha e Cabral n�o tem suscitado entusiasmo em procuradores.
Temer diz que � v�tima de uma conspira��o. Eduardo Cunha se acha injusti�ado. A�cio quer "uma sa�da honrosa".
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