� rep�rter especial. Na Folha desde 1992, foi rep�rter, editor, correspondente, secret�rio de Reda��o e diretor da Sucursal de Bras�lia. Escreve �s quartas.
Com edi��o petrol�o de caravana, Lula repete a hist�ria que j� era uma farsa
Ricardo Borges/Folhapress | ||
Luiz In�cio Lula da Silva em discurso na faculdade de direito da UFRJ, no dia 11/8 |
Pol�tico adora dizer que conhece seu povo, por �bvio. Alguns o conhecem melhor que outros, ainda mais evidente. No Brasil, subsiste uma verdadeira tara esquerdista com certa mitologia relativa a marchas, nas quais l�deres messi�nicos travam contato com a realidade brutal de seus futuros s�ditos, digo, governados.
N�o creio que haja uma historiografia clara disso, mas � poss�vel arriscar que no Brasil essa fascina��o tem origem a coluna Prestes (1925-27), ainda que a natureza brutal do movimento seja esquecida de forma seletiva por quem o enaltece. O mesmo ocorre na China, com a Longa Marcha (1934-35) que viu a emerg�ncia do l�der comunista Mao Ts�-tung.
Na falta de colunas militares, o que restou da esquerda brasileira se derrete pelas Caravanas da Cidadania empreendidas por Luiz In�cio Lula da Silva entre 1993 e 1996. Foram 26 Estados e 359 cidades visitadas de forma bem mambembe, ainda no esp�rito do velho PT.
Naquele ponto, o partido vivia em nega��o. Recusara apoio a Itamar Franco no p�s-Collor, criticara o Plano Real como engana��o e acabara derrotado por um ministro da Fazenda que s� tinha um ativo a apelar � toda a popula��o: a nota do real. Em resumo, era a ant�tese da ideia de entender o que "o povo" queria. Em 2001, uma vers�o mais "light" do processo foi repetida, mas a� estamos falando de pr�-campanha eleitoral pura e simples.
Sempre que o sapato aperta, o PT apela � m�stica das tais caravanas, como se Lula fosse emergir delas purificado e renovado, um Get�lio deixando sua fazenda rumo ao Catete (naturalmente contando com um final feliz).
A edi��o petrol�o da coisa come�a nesta quinta (17) na Bahia e correr� o Nordeste. � prega��o para convertidos, j� que o apoio � figura de Lula � enorme na regi�o, seja pela mem�ria afetiva ao filho da terra, seja por identifica��o com os programas de inclus�o social que s�o mais prevalentes naquela �rea —que vem sentindo especialmente os efeitos da crise econ�mica gestada, ironicamente, pelo PT.
A classe m�dia que o levou ao Planalto com a promessa de responsabilidade econ�mica em 2002 perdeu-se nos mensal�es da vida, e n�o ser� por l� que o ex-presidente vai resgat�-la. � capaz at� de encontrar alguma hostilidade no caminho, das franjas que por ora est�o apoiando o radicalismo de Jair Bolsonaro, o que ajudaria a compor o quadro de v�tima a que Lula se prop�e desde que afundou de vez na Lava Jato.
Ser�o previs�veis imagens de "banho de povo", com criancinhas fam�licas a acarinhar o nhonh� provedor. � capaz at� de inaugurarem de novo algum trecho da transposi��o do S�o Francisco. Para fidelizar o eleitorado petista que logrou recuperar ap�s o impeachment, o que j� � um feito em si, parece que estar� de bom tamanho.
Ao fim, contudo, ser� um grande embuste, at� porque se tem algo que pol�tico rodado conhece � a realidade de seu pa�s. O que realmente interessa � o que ele prop�e fazer sobre ela, e tirando "lutar contra as reformas" e torcer para o governo Temer continuar o miser� que �, n�o se conhece plano de Lula ou do PT. Pulando a etapa "trag�dia" no chav�o m�ximo do vov� Marx, � hora de a com�dia burlesca apresentar-se como repeti��o da hist�ria, que de todo modo j� era farsesca.
*
Falando em farsa, a novela da revis�o da meta fiscal � uma daquelas de mau gosto e final infeliz. Quando a base da discuss�o era um buraco de R$ 139 bilh�es, os caramingu�s que os pol�ticos cobraram de Temer por terem rejeitado a den�ncia contra o presidente e a vontade de gastar um extra no ano eleitoral s�o rematada indec�ncia, mas um suspiro perto do tamanho do problema.
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