Quando li no New York Times que a cidade que dá nome ao jornal é o lugar com maior diversidade linguística do planeta, fui correndo comprar o livro que sustenta a reportagem. "Language City", de Ross Perlin, é uma pequena joia.
Em minha ingenuidade, eu achava que os hotspots da diversidade linguística estavam nas florestas de Papua Nova Guiné e outros lugares remotos, não na selva de pedra que é Nova York. Mas faz sentido. Os padrões de imigração das últimas décadas levaram à cidade habitantes de quase todas as regiões do globo.
Na primeira parte do livro, Perlin, que é linguista e mantém, com apoio da Universidade Columbia, a ELA, uma ONG destinada a documentar e preservar idiomas ameaçados, traça o panorama linguístico da cidade. Ele diz até quais idiomas encontramos em cada bairro e quais as linhas de metrô em que se pode escutá-los.
Na segunda parte, ele conta a saga de seis ativistas, que se dedicam a disseminar seus idiomas. Aí ele combina ótimas histórias humanas com descrições de línguas tão diferentes como o seke, um dos 140 idiomas falados no Nepal, o iídiche, e o náuatle, língua originária do México. Há espaço também para um militante alfabético, os esforços de Ibrahima para difundir o N´ko, alfabeto criado para escrever línguas mandês, da África Ocidental.
O fato de linguistas como Perlin terem acesso a tantos idiomas na esquina de casa não significa que essas línguas estejam fora de perigo. É uma corrida contra o tempo. De um modo geral, as línguas dos imigrantes não vão além da terceira geração. Há exceções, como o iídiche, que segue vivo na comunidade ultra-religiosa dos hassídicos, mas cuja produção laica, que já gerou um Sholem Aleichem, está morrendo.
A redução do número de línguas faladas no planeta é um processo inexorável, mas isso não é razão para não lamentarmos sempre que uma delas se apaga. É uma janela para a diversidade humana que se fecha.
helio@uol.com.br
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