Helio Mattar

Diretor-presidente do Instituto Akatu, foi secretário de Desenvolvimento da Produção do Ministério da Indústria e Comércio Exterior (1999-2000).

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Descrição de chapéu Consumo Consciente

Que ar você quer respirar? Veja hábitos que fazem a diferença

7 milhões de pessoas morrem todo ano no mundo por exposição a micropartículas do ar poluído

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“Nove em cada dez pessoas em todo o mundo respiram ar poluído”, é o que dizem os dados do último relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS). Decorre daí um número alarmante: 7 milhões de pessoas morrem todos os anos devido à exposição a micropartículas presentes no ar poluído. A poluição do ar, nesse sentido, é um grande desafio para a saúde pública, sendo um dos fatores mais críticos para o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis.

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SÃO PAULO, SP, BRASIL, 17.07.2018 - Vista geral da cidade de São Paulo, vista do Pico do Jaraguá, onde é possível ver a faixa de poluição. (Foto: Bruno Santos/Folhapress) - Folhapress

Esse tipo de poluição é silencioso e nos cerca a todos, passando despercebido pelos mecanismos de defesa do organismo humano e podendo provocar acidentes vasculares cerebrais, doenças cardíacas e pulmonares, câncer e outras infecções respiratórias. Isso acontece porque as chamadas “partículas finas”, presentes no ar e que podem ser tão pequenas quanto uma molécula, são inaladas com facilidade e rapidamente chegam aos nossos pulmões e sistema cardiovascular. 

Para se poder pensar em soluções para esse problema, é preciso entender sua origem. A poluição do ar por material particulado é majoritariamente proveniente da queima de combustíveis fósseis nos motores a combustão e, na maior parte dos casos, as emissões estão associadas às atividades industriais e a veículos automotores. 

Para se ter uma ideia da dimensão do problema das emissões veiculares em grandes centros urbanos, vale lembrar o que se passou durante a greve dos caminhoneiros, ocorrida no final de maio de 2018, quando a poluição atmosférica foi reduzida pela metade, de acordo com o Sistema de Informações de Qualidade do Ar da CETESB (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), pelo fato de os caminhões não circularem. 

A OMS afirma que, ao reduzir os níveis de poluição do ar, a incidência de doenças cardíacas e respiratórias seria drasticamente reduzida, permitindo também melhores condições de saúde cardiovascular e pulmonar. 

Como a poluição do ar não reconhece fronteiras em termos de sua origem, sua redução é algo que envolve ações de indivíduos, empresas e governos. Na área de governos, por exemplo, a gestão das cidades tem o poder de contribuir para essa redução de diversas maneiras. É o caso do setor de transportes, no qual, ao incentivar o uso de transporte coletivo em vez de veículos individuais e ao investir em melhorias na infraestrutura de ciclovias e calçadas para estimular o uso de bicicletas e caminhadas, haveria significativa redução da poluição do ar. 

Outra ação possível por parte dos governos municipais é a exigência de padrões reduzidos de emissões veiculares, de modo a pressionar o mercado para o desenvolvimento de tecnologias mais limpas. 

Nesses casos, ao suprir melhores condições para a mobilidade, há um incentivo aos indivíduos na direção de modos de se deslocar com menor emissão de partículas poluidoras do ar.

Pelo lado das empresas, um bom exemplo é o de projetos de construções mais sustentáveis, de modo a permitir aos moradores um menor uso de energia por meio da melhor iluminação e da melhor proteção térmica. Desse modo, reduz-se o uso de energia elétrica, o que causa menor emissão de partículas na geração dessa energia, visto que mais de 20% da energia elétrica no Brasil tem por origem fontes térmicas que usam combustíveis fósseis. 

Os países desenvolvidos têm progredido na definição, pelos órgãos reguladores, de padrões mais rigorosos de emissão de partículas em diversas atividades. Já no Brasil, tais padrões de qualidade do ar não veem avanço há muito tempo. Quase 30 anos depois da definição, pelo Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente), da primeira resolução que toca nesse assunto, os padrões permanecem os mesmos e somente oito estados brasileiros monitoram, de fato, a qualidade do ar. 

Por outro lado, há grandes oportunidades também para os comportamentos diários de consumo contribuírem para reduzir esse tipo de poluição. Reduzir o uso do carro individual, mesmo que apenas em pequenos deslocamentos, podem trazer um resultado surpreendente. 

O Instituto Akatu fez a conta e comprovou que deixar o carro em casa e preferir caminhar um pequeno trecho de 1,5 km cinco vezes na semana, durante toda a vida desde os 18 anos de idade – portanto 57,5 anos, dentro da expectativa de vida dos brasileiros – evitará a emissão de uma quantidade de gases de efeito estufa (​GEE) equivalente àquela emitida na geração de energia elétrica suficiente para abastecer uma residência por 41 anos. É uma forma eficaz de contribuir para a redução da emissão de partículas e ainda se exercitar caminhando.

Outra mudança de comportamento individual que pode contribuir muito para reduzir o problema de particulados se relaciona ao hábito de fumar. Um estudo de 2014, publicado pela revista internacional sobre o uso do tabaco no mundo todo, a Tobacco Control, indica que muitos não fumantes que convivem com um fumante inalam uma quantia similar de partículas finas às inaladas por um não fumante vivendo em uma cidade altamente poluída.

Essas mudanças de hábitos podem, sim, fazer uma enorme diferença positiva se praticadas por muitas pessoas por um longo período. E, além de contribuir para reduzir as emissões na atmosfera, tais atitudes podem também melhorar nosso bem-estar e nos ajudar a levar uma vida mais saudável. 

A Pesquisa Akatu de 2018 mostra, felizmente, que essa mudança já vem acontecendo: entre os brasileiros, 53% utilizam transporte coletivo e/ou compartilhado no dia a dia; 33% escolhe fazer pequenos trechos a pé ou de bicicleta em vez de utilizar veículos como carros e motos; e 46% escolhem viver perto do trabalho ou escola de modo a reduzir a necessidade de deslocamento. 

Diante de tudo o que foi apresentado, convidamos a todos a refletirem sobre como a poluição do ar afeta sua saúde e bem-estar e sobre como nossas rotinas têm contribuído com a emissão de materiais particulados e outros poluentes na atmosfera. E a levar esta reflexão a amigos e familiares. Afinal, isso será fundamental para definir o ar que você e as pessoas a quem você mais quer bem irão respirar.

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