� arquiteto graduado pela USP.
Objetos com mem�ria
A ideia de que objetos carregam mem�rias me fascina desde crian�a. Sempre fui um pouco colecionador de coisas que contam hist�rias.
Quando uma pe�a carrega uma narrativa, uma lembran�a de algu�m ou algo que aconteceu, ela automaticamente � elevada a um novo status, estabelecendo uma conex�o afetiva com a gente.
Ela n�o se relaciona mais com modismos ou est�tica. J� n�o importa mais se o objeto em quest�o � belo ou feio –mesmo porque beleza � algo absolutamente relativo. O que � feio para mim, pode ser lindo de morrer para o outro.
Por exemplo, uma cadeira que pertenceu a sua av� e que faz voc� lembrar das f�bulas que ela contava na inf�ncia tende a passar muito mais tempo na sua fam�lia do que uma outra comprada simplesmente porque combinava com a cor do tapete da sala ou porque apareceu na �ltima novela das oito.
A cadeira da sua av�, envelhecida pelo tempo, deve vir com ranhuras, sofrida e talvez com o assento rasgado. � exatamente isso que a torna especial, �nica, uma cadeira real, com rugas e cicatrizes, customizada pelas hist�rias das vidas que acompanhou.
Eu costumo lan�ar esse exerc�cio aos meus clientes que est�o fazendo uma nova casa: vasculhe enfeites, m�veis e objetos que tragam boas lembran�as.
Utilizar essas pe�as na sua casa vai trazer pessoalidade ao espa�o. E assim, aos poucos, uma casa vai se tornando um lar. Afinal, n�o tem nada mais chato do que uma "casa design", que celebra apenas o novo, com cara de show-room.
No Brasil, ainda celebramos o novo e supervalorizamos as �ltimas tend�ncias da moda –quadro t�pico de um pa�s que enfrenta problemas de autoimagem e autoestima e cujo foco n�o � a educa��o, mas sim a cultura do ter.
Valorizar nossa hist�ria e nosso passado �, al�m de tudo, sustent�vel. Um objeto que carrega mem�ria tem seu ciclo de vida mais alongado. Ele dura mais, n�o vai pra ca�amba de lixo t�o cedo.
� passado para novas gera��es e assim deve sobrepor mais e mais hist�rias. Essa � a ideia por tr�s da sustentabilidade afetiva. O mundo n�o precisa de uma nova cadeira.
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