Formado em filosofia pela USP, � membro da coordena��o nacional do MTST e da Frente de Resist�ncia Urbana.
A resist�ncia dos sem-teto na avenida Paulista
Nesta quinta (2) completam-se 15 dias que centenas de pessoas acamparam na avenida mais famosa de S�o Paulo em luta por moradia popular. Vindos de diferentes ocupa��es –das zonas leste e sul, de Parais�polis e da regi�o metropolitana –os sem-teto t�m resistido ao sol, � chuva e permanecem firmes em frente ao escrit�rio da Presid�ncia da Rep�blica.
A pauta � conhecida de todos: a retomada das contrata��es de moradia para os mais pobres, atrav�s do Minha Casa, Minha Vida. Desde que o governo Michel Temer foi al�ado ao Planalto, nenhuma moradia da faixa 1 do programa (destinada a fam�lias com renda mensal inferior a R$1.800) foi contratada. � nessa faixa que est� o grosso do deficit habitacional brasileiro, pessoas que n�o conseguem obter cr�dito banc�rio e, por isso, precisa do programa social para ter garantido seu direito a morar dignamente.
Na contram�o desta necessidade, o governo Temer tem ampliado as faixas do Minha Casa, Minha Vida que atendem fam�lias com maior renda, transformando-o praticamente em linha de cr�dito imobili�rio. � a reedi��o do velho BNH (Banco Nacional de Habita��o) dos militares. O acampamento do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) na avenida Paulista surgiu contra essa pol�tica.
Midia Ninja | ||
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Sem-tetos acampam na regi�o da avenida Paulista |
Mas, ao longo destes 15 dias, a ocupa��o ganhou um simbolismo bem mais amplo. Primeiro pela presen�a de gente pobre vivendo num dos metros quadrados mais caros do pa�s. Assim como o pedreiro da m�sica de Chico Buarque, que "morre na contram�o atrapalhando o p�blico", a presen�a dos sem-teto na Paulista incomoda. Incomoda por serem pessoas que ousaram sair da invisibilidade; por colocarem-se de igual para igual, na mesma cal�ada, ante outros que t�m a �ntima convic��o de sua superioridade.
O soci�logo Jess� Souza tratou do fen�meno da "subcidadania" no Brasil, uma heran�a da Casa Grande. Gente que � tratada como naturalmente inferior, com desprezo e sem reconhecimento social, a quem est� reservado o elevador de servi�o, a porta dos fundos e outras excresc�ncias de uma sociedade escravocrata. De repente, essa gente toma o centro financeiro da cidade, com altivez e cabe�a erguida.
Os sem-teto levaram a solidariedade para a avenida. Uma cozinha coletiva que serve 300 pessoas diariamente, inclusive a popula��o em situa��o de rua que n�o faz parte do movimento. Pessoas, de v�rias classes sociais, que desafiam a indiferen�a e levam doa��es de alimento, �gua e colch�es. Alguns param para ouvir e conversar. Gestos estranhos �quela selva de pedra.
O acampamento tornou-se ainda um polo de resist�ncia pol�tica e cultural. Aulas p�blicas sobre reforma da Previd�ncia, educa��o, feminismo e tantas outras. Gente compartilhando seu conhecimento em oficinas abertas. Artistas levando sua m�sica em shows gratuitos. A programa��o cultural, organizada pelo coletivo Fora do Eixo, deu vida � avenida.
Nestes 15 dias passaram por l� figuras como Emicida, Criolo e S�rgio Vaz; como a economista Laura Carvalho, o fil�sofo Renato Janine Ribeiro e os jornalistas Leonardo Sakamoto e Jos� Trajano; a ex-ministra Eleonora Menicucci, a cartunista Laerte e o m�sico Eduardo Gudim; Frei Betto e o pastor Ariovaldo Ramos. E muitos outros que vieram oferecer seu conhecimento ou sua arte aos sem-teto. Sem falar nos parlamentares solid�rios � luta e militantes do movimento social e sindical.
As frias cal�adas da Paulista receberam o calor da solidariedade e da luta. A decis�o dos sem-teto de resistir at� ter sua pauta atendida revela a dignidade de um povo que, mesmo sob duras condi��es, prefere lutar a sucumbir.
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