Continua desaparecido o submarino Titan, da OceanGate, que levava cinco tripulantes para uma visita aos destroços do navio Titanic, a mais de 3.800 metros de profundidade.
Estavam na embarcação Stockton Rush, CEO da empresa de turismo, um especialista no naufrágio do Titanic, e três turistas bilionários, que desembolsaram por volta de R$ 1,2 milhões pelo passeio.
Muitos questionaram a sensatez dos turistas, que toparam pagar uma fortuna para passar horas dentro de um veículo que se parece com uma air fryer da Mondial, pilotada por um joystick comprado na Multicoisas.
Nem o Dinner In The Sky, jantar a 100 metros de altura com comida esfriando por rajadas de vento, é pior investimento.
O CEO Stockton Rush já afirmou em um podcast que segurança é "puro desperdício". "Se você só quer estar seguro, não saia da cama", disse. Faltou avisá-lo que, entre sair da cama e mergulhar a 4.000 metros dentro de uma caixa d'água, existe um leque de opções.
O submersível não havia sido aprovado por nenhum órgão regulador. Os passageiros assinaram um termo dizendo estarem cientes dos riscos. O incidente foi a união das teorias de livre mercado com o darwinismo. Alguns radicais até acusaram Charles Darwin de ser comunista.
Outros dizem ser a vingança dos mortos do Titanic. Desta vez, foram os ricos que afundaram, enquanto os pobres estão confortáveis em terra firme.
A experiência faz parte da categoria "necroturismo", ou "turismo mórbido", cuja atração é ver de perto catástrofes com milhares de mortos, como passear por Chernobyl, visitar ossadas em Ruanda e tirar selfie em Auschwitz.
O passeio até o Titanic tem o adicional da exclusividade. Por ser extremamente caro, só poucos podem ir. Aí que entra a habilidade do ser humano de gastar dinheiro com qualquer coisa só porque só ele consegue. Nem que seja para arriscar a vida, por horas, prensado dentro de um sugador de clitóris, só para ver a proa de um navio coberta de alga.
Não espantaria se os passageiros tivessem comprado o pacote "Titanic All Inclusive", que incluiria morrer afundado no oceano e, quem sabe, encontrar os tripulantes do navio.
O mais provável é que, algum tempo depois, as visitas ao Titanic voltem ainda mais inflacionadas. E os turistas, além do navio, vão poder visitar os turistas que morreram vendo o Titanic.
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