Cronista, cr�tico de arte e poeta.
O capitalismo trumpariano se aproxima do nacionalismo nazista
Se a vit�ria de Donald Trump para a Presid�ncia dos Estados Unidos, sob certos aspectos, foi uma surpresa, sob outros resulta coerente com determinadas mudan�as verificadas nas �ltimas d�cadas na realidade contempor�nea a partir do fim do sistema sovi�tico.
O t�rmino da Guerra Fria, que dividia o mundo em duas fac��es hostis, provocou uma s�rie de mudan�as pol�ticas, econ�micas e ideol�gicas.
Elas geraram desde o radicalismo isl�mico no Oriente M�dio at� o populismo latino-americano, que vive seus �ltimos momentos. Mas n�o s�: provocou tamb�m rea��es diversas tanto no capitalismo europeu quanto no capitalismo norte-americano, de que a elei��o de Trump �, sem d�vida, uma das consequ�ncias mais graves.
� claro que o fim do sistema sovi�tico fortaleceu o capitalismo tanto econ�mica como ideologicamente, mas tamb�m provocou divis�es no pr�prio capitalismo, de um lado favorecendo a tend�ncia mais moderna –que aprendera com o socialismo a li��o da igualdade social– mas, de outro, estimulando ideologicamente o capitalismo atrasado, que se valeu do sectarismo comunista para justificar a explora��o sem limites e o lucro m�ximo.
Ruben Grillo/Ruben Grillo/Editoria de Arte/Folhapress | ||
N�o � novidade dizer que o sonho da sociedade justa que o comunismo inspirava estimulou o surgimento de partidos e movimentos pol�ticos que, durante quase um s�culo, puseram em quest�o o regime capitalista, cujo car�ter explorador do trabalho humano � indiscut�vel.
Esses movimentos e partidos, por sua vez, provocaram da parte dos setores mais conservadores rea��es –nazismo e fascismo foram exemplos extremos, mas n�o os �nicos. Em muitos momentos e pa�ses, estabeleceu-se uma divis�o insuper�vel, que se define at� hoje como esquerda e direita.
Se � verdade que os erros do regime comunista –mesmo antes de sua derrocada final– impediram uma pretendida hegemonia mundial, o fim dele como realidade pol�tica e econ�mica teria consequ�ncias diferentes nos diferentes pa�ses capitalistas, indo desde certa socializa��o do capitalismo em alguns pa�ses at�, contraditoriamente, a exacerba��o da explora��o capitalista, j� que –segundo estes– ficara demonstrado pela hist�ria como a tese de que o capitalismo seria um mal a ser extirpado era resultado de um preconceito e de um erro da esquerda.
E essa tese n�o foi aceita apenas pelos militantes anticomunistas, mas tamb�m pelos setores mais diversos de alguns pa�ses europeus que optaram recentemente por governos de direita, n�o radicais como o de Donald Trump, mas igualmente dispostos a apagar, de uma vez por todas, o pesadelo do anticapitalismo que os assustou por d�cadas e d�cadas.
Esse anticomunismo �, portanto, bem mais radical que o europeu, porque a ele se soma a necessidade de erradicar do capitalismo todo e qualquer preconceito socializante, o que o op�e n�o apenas ao falecido comunismo como tamb�m ao chamado capitalismo moderno, minado de inten��es progressistas.
Esse car�ter do capitalismo trumpariano caracteriza-o como uma op��o abertamente reacion�ria que, n�o por acaso, o aproxima do nacionalismo nazista, do qual est�o exclu�dos quaisquer sentimentos de solidariedade com o sofrimento humano. Tudo isso � encarado como hipocrisia.
O capitalismo, assim entendido, � o regime dos mais capazes e dos vitoriosos, como Donald Trump.
O que importa � o lucro, ou seja, o aumento do capital e da riqueza, n�o importando que consequ�ncias tenham. Azar daqueles que a natureza criou incapazes.
Por isso mesmo, Trump nega que o desenvolvimento industrial gere o aquecimento do planeta e ameace a sobreviv�ncia da humanidade. Ou seja, "apr�s moi, le d�luge" (depois de mim, o dil�vio).
Gostaria de concluir esta cr�nica tranquilizando o leitor com a seguinte lembran�a: todas as tentativas semelhantes a essas, que ignoraram a realidade do processo econ�mico, pol�tico e cient�fico, fracassaram.
Puderam at� por algum tempo ganhar o apoio dos menos l�cidos e ressentidos, mas n�o sobrevivem porque s�o fruto do sectarismo, de ilus�es e de ressentimentos, sem base na realidade.
Livraria da Folha
- Cole��o "Cinema Policial" re�ne quatro filmes de grandes diretores
- Soci�logo discute transforma��es do s�culo 21 em "A Era do Imprevisto"
- Livro de escritora russa compila contos de fada assustadores; leia trecho
- Box de DVD re�ne dupla de cl�ssicos de Andrei Tark�vski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade