Cronista, cr�tico de arte e poeta.
Romper com o discurso po�tico n�o � como romper com o processo social
Mudar � pr�prio da exist�ncia. Tanto muda a natureza como mudamos n�s, a sociedade e a cultura; e, se h� o que muda independentemente da nossa vontade, h� o que mudamos n�s, por nossa pr�pria determina��o.
Naturalmente, dentre essas mudan�as por n�s mesmos realizadas, h� as que decorrem de determinantes que mal controlamos e as que resultam de nossa op��o consciente.
Fui levado a refletir sobre esses fen�menos ao me deparar com os problemas que enfrentamos, sobretudo na �poca moderna em face da necessidade de mudar a sociedade em que vivemos, que se imp�s a partir da revolu��o industrial e do desenvolvimento do regime capitalista.
Em fun��o disso, a partir da segunda metade do s�culo 19, em praticamente todos os setores da sociedade, mudan�as radicais se impuseram. Agravou-se uma vis�o cr�tica do modo de produ��o capitalista que iria culminar, em come�os do s�culo 20, com a revolu��o comunista de 1917.
Ruben Grillo/Ruben Grillo/Editoria de Arte/Folhapress | ||
� tamb�m no final do s�culo 19 que, no terreno das artes, surge um movimento renovador que culminar� com a eclos�o cubista no in�cio do s�culo 20. Tais eclos�es revolucion�rias, tanto do campo de produ��o industrial quanto da cria��o art�stica, n�o s�o meras coincid�ncias, mas, sim, resultantes das complexas rela��es que condicionam essas distintas manifesta��es da criatividade humana.
Um s�culo depois de deflagradas, essas mudan�as radicais, tanto no campo pol�tico-econ�mico como no plano est�tico, ambas, ap�s as mudan�as que provocaram, esgotaram-se.
No campo art�stico, ap�s uma s�rie de movimentos realmente inovadores, chegou-se � desintegra��o das linguagens e, finalmente, a uma esp�cie de vale-tudo. Isso porque, quando se afirma que ser� arte "tudo o que se disser que � arte", � decretado o fim da arte.
No campo pol�tico n�o chegamos a esse niilismo, nem poder�amos chegar, pelo fato de que a pol�tica n�o lida apenas com met�foras, mas com a realidade concreta da vida.
E aqui chegamos ao ponto que me levou a estas considera��es: se � verdade que a mudan�a � um fator decisivo da exist�ncia e, portanto, tamb�m da realidade social, inovar, neste campo, n�o � o mesmo que inovar no campo das artes, pelo fato de que este � um terreno particularmente complexo, pois envolve desde o p�o de cada dia at� o custo das aposentadorias e o �ndice de desemprego.
A Revolu��o Sovi�tica de 1917 deu in�cio a mudan�as radicais na sociedade russa, mas tamb�m no processo pol�tico mundial, fomentando, sobretudo na intelectualidade e na juventude, a luta por uma sociedade anticapitalista, justa e revolucion�ria.
Essa utopia n�o se realiza plenamente em raz�o mesma da complexidade dos problemas nela implicados. Marx subestimou a import�ncia decisiva da iniciativa privada no processo econ�mico e, com isso, perdeu a disputa com o regime capitalista.
Em consequ�ncia disso, aquela ideologia perdeu for�a, mas a luta pelas mudan�as sociais ainda se mant�m, seja na vers�o do populismo latino-americano, seja no projeto de alguns partidos que pregam um socialismo moderado em diversos pa�ses europeus.
H�, ainda, tamb�m na Europa, pa�ses que praticam um capitalismo sensato, em que a diferen�a de renda � compensada com a presta��o, pelo Estado, de servi�os eficientes no campo da sa�de e da educa��o, sobretudo.
Em pa�ses como o nosso, esses servi�os s�o muito mais prec�rios n�o s� porque os recursos s�o insuficientes, mas porque o n�mero de pessoas carentes � muito maior.
Na Am�rica Latina surgiram alguns governos populistas que tentaram explorar politicamente essa desigualdade, implantando programas que exclu�am a possibilidade real de coloc�-los em pr�tica. A consequ�ncia disso foi o agravamento da situa��o econ�mica geral e a estagna��o do crescimento, que resultou no fracasso desse populismo nos pa�ses que tentaram implant�-lo.
Ent�o, volto � tese que j� expus aqui: uma coisa � romper com a l�gica do discurso po�tico; outra coisa, muito diversa, � romper com a l�gica do processo social. D� em Venezuela, por exemplo.
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