Cronista, cr�tico de arte e poeta.
Em busca de solu��es, o homem inventou Deus
Sem pretender complicar as coisas, devo, no entanto, admitir que o ser humano tem necessidade de atribuir sentido � sua exist�ncia.
Ao que eu saiba, gato, cachorro, cavalo, macaco, n�o t�m necessidade disso. Come�a que, ao contr�rio do bicho-homem, n�o sabem que v�o morrer. E a� est� todo o problema: se vamos morrer, para que existimos?, perguntamos n�s, sejamos fil�sofos ou n�o. Ali�s, � por essa raz�o que surgem os fil�sofos, para responder a essa pergunta de dif�cil resposta.
Em busca de solu��es, o homem inventou Deus, que � a resposta �s perguntas sem resposta. Por isso mesmo, e n�o por acaso, todas as civiliza��es criaram religi�es, diferentes modos de inventar Deus e de dar sentido � vida. H�, por�m, quem n�o acredita em Deus e busca outra maneira de dar sentido � exist�ncia, � sua e a do pr�prio universo.
Rubem Grillo/Editoria de Arte/Folhapress | ||
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Esses s�o os fil�sofos. Mas h� tamb�m os que, em vez de tentar explicar a realidade, inventam-na e reinventam-na por meio da m�sica, da pintura, da poesia, enfim, das diversas possibilidades de responder � perplexidade com o deslumbramento e a beleza.
H�, por�m, quem d� sentido � vida empenhando-se nas pesquisas cient�ficas, nas realiza��es tecnol�gicas e nas produ��es agr�cola, industrial ou comercial. Tamb�m existem os que encontram esse sentido na ajuda aos outros ou na dedica��o � fam�lia.
Qualquer uma dessas op��es exige do indiv�duo maior ou menor empenho, conforme as caracter�sticas de sua personalidade e as implica��es da op��o feita. Por exemplo, se a op��o � no campo da arte, os problemas que surgem podem conduzir a um empenho que �s vezes implica numa entrega limite, que tanto pode levar � realiza��o plena como � frustra��o do projeto.
Diversamente, no plano pol�tico, por envolver um n�mero consider�vel de indiv�duos, o sectarismo ideol�gico tem consequ�ncias graves, �s vezes tr�gicas. O exemplo mais not�rio � o nazismo de Adolfo Hitler, que levou ao massacre de milh�es de judeus e a uma desastrosa guerra mundial. Mas houve outros exemplos de sectarismo ideol�gico, como o stalinismo e o maoismo, de lament�veis consequ�ncias.
No plano da religi�o, ent�o, por adotar muitas vezes a convic��o de que ali est� a verdade revelada, tanto se pode alcan�ar a plenitude espiritual como render-se ao fanatismo intolerante, a exemplo do que ocorreu, no s�culo 13, com a Inquisi��o, quando a Igreja Cat�lica criou tribunais para julgar e condenar os chamados hereges. Eles eram queimados vivos na fogueira, j� que teriam entregue suas almas ao Diabo. A religi�o �, certamente, o campo prop�cio ao surgimento da intoler�ncia intelectual, precisamente porque ela se sup�e detentora da verdade absoluta, da palavra de Deus. Hoje, temos, nesse campo, a atua��o fan�tica do Estado Isl�mico.
Mas voltemos � necessidade que temos todos de dar sentido � nossa vida. Generalizando, pode-se dizer que o bicho humano, para ser feliz, necessita de uma utopia. No s�culo 20, para muita gente, essa utopia foi a busca da sociedade fraterna e justa, concebida por Marx e que, sem se realizar plenamente, extinguiu-se. A consequ�ncia disso � que, hoje, vivemos sem utopia, o que atinge particularmente os mais jovens.
Sem d�vida, a maioria deles, de uma maneira ou de outra, encontra seu caminho, um sentido para sua vida. Mas h� os que, por uma raz�o ou por outra, tornam-se presas f�ceis de uma op��o radical, como a do fanatismo isl�mico que, al�m de lhes oferecer um rumo –uma esp�cie de miss�o redentora–, atende a seus ressentimentos. A isso se somam muitos outros fatores, como as ra�zes �tnicas, a descrimina��o, a frustra��o social e, sobretudo, um grave dist�rbio mental.
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