Cronista, cr�tico de arte e poeta.
N�o quero ter raz�o
Fiquei surpreso ao ler o artigo de Augusto de Campos ("Ilustrada", 15.jun, p�g. C4). Surpreso pelo tom insultuoso e agressivo de suas palavras em rea��o � cr�nica que eu havia publicado aqui, um domingo antes, evocando minha rela��o com Oswald de Andrade e sua obra. Toda a f�ria de Augusto foi motivada por ter eu mencionado uma conversa nossa, ocorrida em 1955, em que ele fez restri��es a Oswald e de que discordei. Se fiz men��o a tal conversa foi apenas porque ela efetivamente ocorreu e faz parte de minha rela��o com o autor de "Serafim Ponte Grande". N�o tive outro prop�sito, muito menos o de subestimar a contribui��o de Augusto, Haroldo e D�cio para a revaloriza��o da obra de Oswald, fato que reconheci e registrei na referida cr�nica.
Por isso mesmo, n�o vejo raz�o para o tom insultuoso com que ele se refere a mim e a minha participa��o naquela fase da poesia brasileira, como se guardasse um profundo ressentimento do que aconteceu ent�o, quando diverg�ncias te�ricas levaram � ruptura dos concretistas paulistas com os cariocas. Isso ocorreu quando, em junho de 1957, Augusto e seus parceiros nos enviaram um manifesto afirmando que, a partir de ent�o, a poesia concreta seria fundada em equa��es matem�ticas. Achei um disparate, liguei para Augusto e ele respondeu que era aquilo mesmo o que pensavam e, se eu discordava, fizesse o que achasse melhor. Rompemos. S� que eles nunca fizeram poesia matem�tica nenhuma nem tampouco desdisseram o que haviam pregado. Se eu fosse t�o ressentido quanto ele, diria que o nome disso � charlatanice liter�ria: mas n�o, era imaturidade mesmo. No entanto, pensar que ele se tornou meu feroz inimigo por ter eu discordado dessa teoria inconsequente � lament�vel.
Muitos anos se passaram desde ent�o. Afastei-me das experi�ncias de vanguarda, as buscas concretistas como as neoconcretas foram por mim abandonadas em fun��o de minhas pr�prias necessidades est�ticas e ideol�gicas. Reconhe�o-as, umas e outras, como momentos importantes da poesia brasileira, mas est�o, de h� muito, fora de minhas preocupa��es. N�o seria, portanto, agora que me ocuparia em fazer provoca��es a Augusto, coisa que, como todos sabem, n�o � de meu feitio.
E vejam bem, quando me caiu nas m�os, meses atr�s, um livro sobre a pintura de Waldemar Cordeiro, tive uma surpresa: � que ele, um dos lideres do concretismo paulista, afirmara, naquela �poca, que a cor, por ser sensual, deveria ser exclu�da da pintura concreta, essencialmente racional. "Se voc� elimina a cor da pintura, acaba a pintura", disse-lhe eu. Mas eis que, ao manusear o tal livro, verifiquei que, ao contr�rio daquela antiga teoria, ele tinha mais tarde realizado belos quadros intensamente coloridos. Sabem o que fiz? Escrevi, neste espa�o mesmo, um artigo refazendo o ju�zo que, erradamente, mantinha acerca dele. Costumo dizer que n�o quero ter raz�o, quero ser feliz. E, para ser feliz, h� que ser justo.
Augusto, sem d�vida alguma, vai dizer que minto, se afirmar que, ao saber da publica��o de seu novo livro de poemas, tive vontade de escrever um artigo simp�tico sobre ele. Cl�udia, ao ouvir isso, comprou o livro e me deu de presente. Trouxe-o para casa, por�m, ao abri-lo, deparei-me com blocos de palavras de muita riqueza gr�fica e crom�tica mas que n�o conseguia entender. Defici�ncia minha, certamente, mas o fato foi que, desapontado, desisti de fazer o artigo, pois n�o poderia escrever sobre o que n�o compreendo.
Sei que ele n�o acreditar� nisso e dir� que se trata de um pretexto para negar as qualidades de seu livro. E menos ainda acreditar� que, h� duas semanas, na Academia Brasileira de Letras, quando convers�vamos sobre os poss�veis candidatos ao Pr�mio Machado de Assis, Ant�nio Carlos Secchin sugeriu o nome de Augusto e eu o apoiei. Mas, agora, depois do que ele falou da Academia nesse furioso artigo, sua candidatura � carta fora do baralho. O que � uma pena, n�o digo pela gl�ria, mas pela grana. N�o � nada, n�o � nada, s�o, concretamente, R$ 300 mil.
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