Cronista, cr�tico de arte e poeta.
Antes autorit�rio que corrupto
Tenho dito aqui que o tipo de populismo caracter�stico do governo do PT –como o de alguns outros pa�ses latino-americanos– nasceu como uma alternativa ao regime comunista que acabou antes que chegassem ao poder pela revolu��o. N�o chegariam, � claro, mas em face das novas circunst�ncias, tiveram que mudar de t�tica.
Esse populismo, que se valeu dos recursos p�blicos para ganhar a ades�o das camadas mais pobres da popula��o, adotou naturalmente uma pol�tica econ�mica que, para mostrar-se anticapitalista, levou o pa�s � bancarrota. Por outro lado, apropriou-se das empresas estatais e saqueou-as em alian�a com empres�rios capitalistas, que diziam combater.
O resultado de tudo isso foi o que se viu: o processo pol�tico-econ�mico do petismo e os esc�ndalos que culminaram com o impeachment de Dilma Rousseff. A cara abatida de Lula, no dia em que ela foi afastada do governo, n�o deixou d�vida quanto � realidade dos fatos: o populismo petista chega ao fim.
Pois bem, mas n�o � que, exatamente nessa ocasi�o, a dire��o do Partido dos Trabalhadores trouxe a p�blico uma "Resolu��o sobre a Conjuntura" que p�s todo mundo perplexo? � que, nesse documento, os dirigentes petistas deixam claro que, de fato, seu projeto era instaurar no pa�s um regime antidemocr�tico.
Vejamos o que diz o inusitado documento: "Fomos igualmente descuidados com a necessidade de reformar o Estado, o que implicaria impedir a sabotagem conservadora nas estruturas de mando da Pol�cia Federal e do Minist�rio P�blico Federal, modificar os curr�culos das academias militares, promover oficiais com compromisso democr�tico e nacionalista; fortalecer a ala mais avan�ada do Itamaraty e redimensionar sensivelmente a distribui��o de verbas publicit�rias para os monop�lios da informa��o".
Noutras palavras, o que est� dito nessa resolu��o � que o projeto de poder do partido era substituir o Estado democr�tico por outro, controlado pelo PT, � semelhan�a das ditaduras de esquerda. Como isso seria feito?
Conforme est� claro no documento, os petistas deveriam manter sob seu controle a pol�cia e a promotoria federais, mudar a forma��o ideol�gica das academias militares, assumir o comando das for�as armadas, submeter as decis�es do Itamaraty e comprar a opini�o dos jornais e esta��es de televis�o. Enfim, instaurar no pa�s um regime totalit�rio.
Devo admitir que semelhante declara��o me deixa surpreso. � que, embora saibamos que o prop�sito desse populismo sempre tenha sido usar a m�quina estatal e os programas assistencialistas para perpetuar-se no poder, sempre procuraram mostrar-se como representantes da vontade popular, ou seja, como int�rpretes da aut�ntica democracia.
Agora mesmo, neste epis�dio do impeachment da Dilma Rousseff, procuram caracteriz�-lo como um golpe, ou seja, uma a��o contra a democracia, de que seriam eles os verdadeiros defensores. Como se explica, ent�o, que, contrariando suas pr�prias palavras de ordem e sua atitude em face do impeachment, tragam a p�blico um documento em que deixam expl�cito o seu projeto de instaurar no pa�s um regime autorit�rio? E veja bem, prop�sito esse que sempre foi veementemente negado por eles, toda vez que algu�m os acusava se tal inten��o.
E n�o era de se esperar outra coisa, uma vez que o PT se caracteriza com o partido da mentira. Por isso mesmo, ainda � mais surpreendente a sinceridade dessa resolu��o, na qual lamenta n�o ter conseguido instaurar no pa�s o seu projeto autorit�rio. Diante disso, � inevit�vel perguntar: por que ent�o essa inusitada sinceridade?
Vou arriscar um palpite. Como disse antes –e todo mundo sabe–, n�o s� o impeachment de Dilma Rousseff mas tamb�m a participa��o do PT nas falcatruas denunciadas pelo mensal�o e pela Lava Jato desmontaram a imagem do partido "que n�o rouba nem deixa roubar".
Este seria, portanto, o momento de fazer uma autocr�tica. E � isso que essa resolu��o pretende ser, mas n�o �, pois, em vez de arrepender-se das falcatruas que praticou, culpa-se de n�o ter posto em pr�tica um projeto revolucion�rio que n�o passava de conversa fiada.
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