Cronista, cr�tico de arte e poeta.
De volta ao real
Tenho dito aqui que o tipo de governo que se instalou no Brasil e em alguns pa�ses latino-americanos –como Argentina, Venezuela, Bol�via e Equador– � uma esp�cie de populismo de esquerda, que de esquerda n�o tem nada. Tenho dito tamb�m que esse populismo –apelidado por Hugo Ch�vez de socialismo bolivariano– nasceu como uma alternativa ao regime de tipo sovi�tico, que se esgotou e findou na d�cada de 1980.
Ao dizer isso, n�o afirmo mais do que o �bvio, uma vez que, na origem dessa op��o, estava a Revolu��o Cubana, inspiradora dos movimentos guerrilheiros surgidos em alguns pa�ses do continente. Esses movimentos, que naturalmente fracassaram, est�o, portanto, na origem do atual populismo, que foi obrigado a desistir da luta e voltar-se para o caminho eleitoral.
Mas, vejam bem, ao tra�ar tal diagn�stico, n�o desconhe�o que esse populismo, para afirmar-se como redutor da desigualdade social, contribuiu para melhorar as condi��es de vida de milh�es de pobres que viviam em condi��es sub-humanas.
As cr�ticas que fa�o a esse tipo de regime � que ele, por um lado, se vale do assistencialismo para perpetuar-se no poder e, por outro, conduz os pa�ses � debacle econ�mica por optarem pelo assistencialismo em lugar do investimento produtivo. No fundo, mas de outro modo, incorrem no mesmo erro dos regimes comunistas: desconhecer que o capitalismo, ainda que injusto, � fonte de riqueza e desenvolvimento econ�mico.
Como j� observamos em outra ocasi�o, esse populismo n�o � o mesmo em cada um dos pa�ses onde se implantou, embora, apesar disso, tenha cometido os mesmos erros em cada um deles e, n�o por acaso, entrou em colapso quase ao mesmo tempo. Na Argentina, em sua vers�o kirchnerista, j� chegou ao fim e, na Venezuela, est� prestes a acabar, ainda que de maneira quase hilariante.
Depois de criar o Vice-Minist�rio da Suprema Felicidade, Maduro reduziu o trabalho do funcionalismo p�blico a apenas dois dias por semana e quer agora impedir que as mulheres usem secador de cabelo para assim reduzir o consumo de energia...
No Brasil n�o chegamos a tanto, porque n�o somos uma terra prop�cia ao realismo m�gico de Garc�a M�rquez. N�o obstante, tamb�m aqui o populismo entrou igualmente em colapso, n�o diria que em fun��o daquele realismo e, sim, do realismo corrupto que, se n�o � exclusividade nossa, parece que se tornou parte de nossa vida pol�tica.
Quem diria, por exemplo, que um partido como o PT, nascido sob o lema do "n�o rouba nem deixa roubar", fosse implantar no pa�s um dos regimes mais corruptos de nossa hist�ria?
N�o por acaso, esse � tamb�m o regime da mentira. E, se digo que n�o � por acaso, digo-o porque, em face dos �ltimos esc�ndalos e de como se comportam os petistas e seus aliados, sou obrigado a acreditar que a mentira � inerente a esse tipo de milit�ncia pol�tica.
Nunca vi mentir com tamanho descaramento. Diria mesmo que a mentira � um elemento estrutural do procedimento pol�tico-administrativo que tem governado o pa�s nestes �ltimos anos.
Sen�o vejamos: Lula implanta o mensal�o, mente que foi tra�do e depois mente de novo ao dizer que foi tudo inven��o da imprensa. Estoura o esc�ndalo do petrol�o, que leva � cadeia gente de seu partido e empres�rios amigos seus. Mas ele, sem qualquer constrangimento, afirma que se trata de uma conspira��o para tirar o PT do poder.
Dilma segue o mesmo caminho, afirmando que o impeachment � golpe, embora tenha usado a grana das pedaladas para se reeleger. E mentiu durante toda a campanha eleitoral de 2014. Ainda assim –ou talvez por isso mesmo– nada evitar� que o populismo petista chegue ao fim.
Dilma estar� fora do governo. Mas me perguntam : o que vir� depois? Pode-se confiar em Temer? Diante disso, minha resposta � a seguinte: tamb�m n�o sei o que vir� depois, mas, dificilmente, ser� pior do que o que a� est�. De qualquer modo, � melhor tentar mudar do que manter o que j� n�o deu certo.
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