Cronista, cr�tico de arte e poeta.
A carta de Michel Temer
Vou tentar dizer, a meu modo, como vejo a carta que Michel Temer enviou � presidente Dilma Rousseff e que tanta celeuma causa no ambiente pol�tico, particularmente nas rela��es do PMDB com o governo federal.
Na opini�o da maioria dos comentaristas, aquela carta foi um meio de que o vice-presidente da Rep�blica lan�ou m�o para se queixar de Dilma Rousseff. Na verdade, a carta tem um tom de queixa, mas no meu entender esse foi o modo que ele encontrou para justificar seu perturbador sil�ncio em face do processo de impeachment a que est� sujeita a chefe do governo e de quem ele � o vice.
O sil�ncio de Temer levou os assessores de Dilma a atribuir-lhe opini�o contr�ria ao processo de impedimento, que n�o teria fundamento jur�dico. Temer desmentiu essa informa��o, que deve ter contribu�do para ele escrever a referida carta.
Mas o certo � que essa hist�ria n�o come�a a�, vem de longe, desde o come�o do primeiro governo de Lula. Eleito, surgiram entendimentos para que o PMDB aderisse a Lula e passasse a apoi�-lo. Ele rejeitou essa ideia e preferiu aliar-se a pequenos partidos, aos quais n�o necessitaria entregar minist�rios e empresas estatais, como teria que fazer, se se juntasse ao PMDB. �queles partidos, em vez de altos cargos, lhes deu dinheiro (dinheiro p�blico), de que resultou o esc�ndalo do mensal�o.
Embora Lula, no primeiro momento, ao ser interpelado sobre aquele esc�ndalo, alegara que havia sido tra�do, depois que seus "traidores" foram processados e condenados, passou a dizer que se tratou de um golpe pol�tico. A verdade, por�m, � que, para se reeleger e governar, recorreu ao apoio do PMDB, que rejeitara antes. E teve que fazer o que jamais quis, ou seja, dividir os minist�rios com o novo aliado. Terminado o segundo mandato, inventou a candidatura de Dilma, tendo como vice Michel Temer. Que Lula nunca quis dividir o poder com ningu�m, viu-se desde o come�o, e s� aliou-se ao PMDB para se manter nele.
Essa n�o �, por�m, uma atitude somente do Lula mas tamb�m de seu partido e, particularmente, de Dilma Rousseff. As den�ncias da Opera��o Lava Jato vieram piorar a situa��o de todos eles e, especialmente, a da presidente da Rep�blica, em cujo governo o pa�s naufragou de vez. Isso era inevit�vel acontecer j� que, para se manter no poder, os petistas optaram por investir pesado nos programas assistencialistas e n�o no crescimento da economia. Em vez disso, como parte de seus programas populistas, para evitar o aumento dos pre�os, subvencionava grandes empresas produtoras de bens de consumo.
Ocorreu que, para ganhar as elei��es de 2014, Dilma tra�ou um retrato falso da realidade econ�mica do pa�s, mas assim que tomou posse, teve que fazer o contr�rio do que prometera na campanha eleitoral. Desse modo, entrou num beco sem sa�da, porque as medidas a serem tomadas contrariam o populismo que Lula e ela impuseram ao pa�s. O resultado disso � que a crise econ�mica se agrava e a crise pol�tica tamb�m, uma acionando a outra.
N�o � por acaso que, em menos de um ano do novo mandato, o �ndice de aprova��o de seu governo oscila entre 7% e 10%. A hegemonia pol�tica dos petistas parece chegar ao fim. A popularidade do ex-presidente Lula caiu –47% do eleitorado n�o votaria nele em 2018. A todos esses fatores negativos, veio juntar-se o pedido do impeachment que, quer ocorra ou n�o, ter� consequ�ncias desastrosas para o petismo.
Em face de todos esses fatores, ningu�m se atreveria a apostar num bom futuro para os petistas e particularmente para o governo de Dilma. Falando claro, a hegemonia petista chega ao seu fim, sem perspectiva de recupera��o. Cabe, ent�o, perguntar: que interesse tem o PMDB em continuar apoiando o PT e, sobretudo, depois dessa hist�ria que contamos aqui? Desconhe�o exemplo em que algum partido tenha naufragado com o outro, por mera solidariedade. O que costuma acontecer � abandonar o barco quando come�a a afundar. Essa � a minha leitura da carta de Michel Temer, que, ali�s, j� parece tomar provid�ncias para assumir o governo.
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