Cronista, cr�tico de arte e poeta.
A coisa est� preta
Se a situa��o do petismo j� estava ruim, nestas �ltimas semanas piorou, e muito. Para isso contribu�ram, sem d�vida alguma, novas pris�es –culminando com a do l�der do governo no Senado, sua aprova��o pelos senadores e a rea��o da dire��o nacional do PT em face dela.
A pris�o de Delc�dio do Amaral, autorizada pelo Supremo Tribunal Federal, causou espanto n�o apenas pelo inesperado da decis�o como pelos elementos de prova que a determinaram: as grava��es em que ele revela planos de subornar Nestor Cerver� para que n�o o denuncie em sua dela��o premiada. Em fun��o disso, com a colabora��o do banqueiro Andr� Esteves, oferece-lhe uma mesada de R$ 50 mil e mais R$ 4 milh�es, al�m de meios para deixar clandestinamente o pa�s. Tudo isso foi gravado pelo filho de Cerver� e entregue � Pol�cia Federal.
Conforme a Constitui��o, teria o Senado autoridade para revogar aquela decis�o do STF. N�o obstante, em vez de revog�-la, aprovou-a por 59 votos contra 13. Todos esses fatos –que inclu�ram as pris�es de Andr� Esteves, do advogado de Nestor Cerver� e do chefe de gabinete de Delc�dio– ocuparam em tempo integral o notici�rio dos jornais e da televis�o, sem falar nas redes sociais, que exigiam a puni��o dos acusados.
A sess�o do Senado em que se deliberou a decis�o do Supremo foi transmitida pela televis�o. O ambiente ali era constrangedor. Senadores que usaram da palavra na ocasi�o, embora apoiando a decis�o do STF, diziam-se constrangidos em ter de aceitar a condena��o de um colega, tanto mais que consideravam Delc�dio um homem cordial e amigo. Mas os fatos tornavam indiscut�vel a culpa do senador Delc�dio do Amaral na tentativa de impedir a apura��o da verdade pela Opera��o Lava Jato.
Diante disso, qual foi a atitude da Presid�ncia da Rep�blica, uma vez que o personagem principal deste novo esc�ndalo era seu l�der no Senado? Sil�ncio absoluto, como se nada tivesse a explicar ao pa�s. No entanto, o senador Delc�dio era homem de confian�a da presidente Dilma e o principal articulador dos interesses do governo no Senado Federal. Enquanto o pa�s se espantava diante do esc�ndalo, o Planalto se fingiu de morto.
Mas aquele sil�ncio pegava mal, tornava-se intoler�vel. Foi a� que a dire��o do PT, em nota assinada por seu presidente, Rui Falc�o, sentiu-se for�ada a tomar posi��o diante do esc�ndalo. E o que diz a nota? Embora se trate de um importante membro do partido pela posi��o mesma que ocupa no Senado, a dire��o do PT afirmou, na referida nota, que, como Delc�dio n�o estava sendo punido em fun��o de "sua atividade partid�ria", n�o merecia a solidariedade do partido.
Tal afirma��o provocou rea��es indignadas ao ser lida na sess�o do Senado que discutia a pris�o de Delc�dio. Com raz�o, observou-se na imprensa que, quando da pris�o de Jos� Dirceu, Jos� Genoino, Del�bio Soares e Jo�o Vaccari Neto, o PT prestou-lhes irredut�vel solidariedade, apesar das falcatruas de que eram acusados e que resultaram em condena��es e pris�es. Deve-se, ent�o, concluir que, quando usaram o dinheiro p�blico para comprar deputados ou para encher os cofres do partido, desempenhavam leg�tima "atividade partid�ria".
Na verdade, o problema � que os petistas –de Dilma a Lula, da dire��o do PT a seus representantes– j� n�o sabem o que dizer em face de tantos esc�ndalos e do desastre a que conduziram o pa�s. Rui Falc�o, em sua nota lament�vel, disse o que Lula e Dilma gostariam de dizer: Quem mesmo? Delc�dio? Nunca ouvi falar!
O certo � que, a esta altura, o lulo-petismo j� n�o suporta assumir a culpa de mais um de seus membros comprometido com a corrup��o. Por isso negou-se a defender Delc�dio, como se se tratasse de algu�m sem qualquer import�ncia em seu esquema de poder. Sucede que ele, como l�der do governo, desempenhava papel decisivo para viabilizar, no Congresso, as propostas do Planalto. Essa � a raz�o por que, sem ele, criou-se uma situa��o cr�tica, que amea�ava levar ao colapso importantes setores da administra��o federal. J� imaginou se ele decide ir � forra e adere � dela��o premiada? O PT que se cuide.
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