Cronista, cr�tico de arte e poeta.
Pobre � ladr�o?
Logo ap�s o fim de semana, quando a zona sul do Rio foi tomada pelos arrast�es, assisti a um programa de televis�o em que se debatia o assunto. De fato, foram dois dias –um s�bado e um domingo– que deixaram as pessoas apavoradas, sem falar daquelas que sofreram diretamente a a��o dos pivetes.
Eles agiram em grupos de dez, quinze assaltantes que, nas praias, tomavam dos banhistas celulares, bolsas, cord�es de ouro, rel�gios, enfim, tudo o que pudessem levar.
Em meio a tanta gente, corriam e sumiam, sem que nem mesmo os policiais conseguissem peg�-los. Alguns foram presos, mas, como disse um delegado, logo seriam soltos para voltar a assaltar. � que s�o menores.
Pois bem, durante o debate, a opini�o dos participantes era de que a raz�o dessa crescente a��o dos pivetes est� na maneira como agem as autoridades, usando apenas a repress�o policial, quando o problema � social. Ou seja, de nada adianta reprimir a a��o dos pivetes, uma vez que a causa est� na desigualdade: esses assaltantes s�o jovens de classe baixa, filhos de fam�lias pobres, que muitas vezes n�o t�m nem mesmo o que comer.
Isso, sem d�vida alguma, � verdade. Mas, partindo dessa constata��o, o que fazer para evitar que eles continuem a assaltar? Na opini�o dos debatedores, naquele programa, o governo deveria oferecer a esses jovens atendimento capaz de reintegr�-los � vida social. Noutras palavras, � a desigualdade social que os leva a roubar.
Vamos examinar essa tese. Quantos menores pobres existem na cidade do Rio de Janeiro? N�o sei ao certo, mas acredito que cheguem a muitos milhares, a centenas de milhares. Se aqueles jovens assaltam por serem pobres, por que n�o h� muitos milhares de assaltantes em vez de algumas dezenas? Os que agiram naquele fim de semana n�o chegavam a cem.
Diante disso, concluo que n�o � apenas por ser pobre que o cara se torna assaltante. Ou vamos admitir que basta ser pobre para ser bandido? Seria uma ignom�nia contra os pobres que, pelo contr�rio, em sua absoluta maioria trabalham para ganhar o p�o de cada dia. Na verdade, a maioria dos que pegam no pesado s�o os pobres. E o pessoal do Petrol�o, rouba por qu�? Por n�o ter o que comer certamente n�o �. Ser� por voca��o?
Citei, certa vez, numa de minhas cr�nicas, o que disse uma senhora favelada: "Tenho cinco filhos, duas meninas e tr�s meninos. Quatro deles est�o estudando. S� um deles n�o quis estudar e virou assaltante". Vejam bem; todos eles foram criados na mesma casa, na mesma favela, pela mesma m�e, enfrentando as mesmas dificuldades. Por que s� um deles optou pelo crime? Semana passada, um desses garotos declarou que rouba por prazer e n�o estuda porque n�o quer.
A desigualdade social existe e, no Brasil, chega a um n�vel vergonhoso. E h� desigualdade, maior ou menor, em todos os pa�ses, at� naqueles de alto desenvolvimento econ�mico, como os Estados Unidos. Deve-se observar tamb�m que, durante s�culos, a humanidade enfrenta esse problema e luta para livrar-se dele. Admito que talvez nunca cheguemos � sociedade justa, mas ela pode ser menos injusta, sem d�vida alguma. S� que isso vai demorar –e muito.
Voltemos, ent�o, � tese daquele pessoal do tal programa. Se � verdade que os pivetes assaltam porque nasceram numa sociedade desigual, significa que, enquanto a desigualdade se mantiver, haver� assaltantes, os quais n�o devem ser punidos, pois s�o v�timas da sociedade desigual. Puni-los seria cometer uma dupla injusti�a, certo? No fundo, � mais ou menos essa vis�o do problema que levou � benevol�ncia das leis brasileiras contra os criminosos, tenham a idade que tiver.
Mas como fica a mocinha inglesa que teve sua bolsa levada pelos pivetes com todo o seu dinheiro e todos os seus documentos? Chorando, ela prometeu nunca mais voltar ao Brasil. Como fica o assassinato daquele senhor, morto pelo pivete que queria roubar sua bicicleta?
Se a causa dos crimes � a desigualdade social, e ela vai custar muito a ser superada, vamos ter de viver o resto da vida trancados em casa ou andar apavorados pelas ruas da cidade. Ser� que est� certo?
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