Cronista, cr�tico de arte e poeta.
Maconha legal
A legaliza��o do consumo da maconha tornou-se, sem qualquer d�vida, uma quest�o importante em v�rios pa�ses, inclusive no Brasil. Em alguns outros pa�ses essa legaliza��o ou descriminaliza��o j� se deu, como no Uruguai e em Portugal, respectivamente. Aqui no Brasil, o Supremo Tribunal Federal debate descriminalizar o consumo da maconha.
No meu ponto de vista, n�o � que essa descriminaliza��o esteja errada, j� que n�o me parece justo prender e muitos menos condenar quem consome drogas, seja maconha ou qualquer outra. No meu entender, a provid�ncia correta � a ajuda terap�utica para livrar o viciado do v�cio e uma campanha de esclarecimento pelos meios de comunica��o e nas escolas.
H� quem afirme que a maconha n�o provoca nenhum mal e, portanto, n�o � necess�rio tratar o usu�rio dela. Minha experi�ncia pessoal, nesse terreno, � o contr�rio: a maconha � um alucin�geno e, portanto, conforme seja o indiv�duo que a fume, as consequ�ncias tanto podem ser insignificantes como desastrosas.
Conhe�o os dois tipos de consequ�ncias: gente que, fumando-a, sente-se relaxada, como outros, que perdem o controle e fazem qualquer coisa, como tentar estrangular a irm� ou jogar-se da janela do apartamento. Como tenho o mau h�bito da sensatez, acho que o melhor mesmo � n�o arriscar.
Digo isso porque, quando era garoto, levaram-me a experimentar a maconha. Dei uma tragada, achei-a desagrad�vel e n�o aderi. Meu colega Esmagado, tamb�m n�o aderiu, mas o Maninho, que compunha a nossa trinca, achou um barato.
Depois de tantos anos, eu estou aqui, mod�stia � parte, saud�vel e trabalhando. Esmagado tornou-se craque de futebol, enquanto Maninho passou da maconha para a coca�na (o que costuma ocorrer), sumiu de casa e morreu, antes dos 40, depois de v�rias interna��es para livrar-se da droga.
Quem defende a legaliza��o da maconha alega que, como os muitos anos de repress�o ao tr�fico n�o acabaram com ele, a solu��o n�o � essa. Isso me parece mais um sofisma do que um argumento porque, se o aceitarmos, ter�amos que desistir de combater a corrup��o, uma vez que, ap�s s�culos de combate, ela continua.
Por outro lado, nada indica que a legaliza��o da maconha (ou das drogas em geral) acabar� com o tr�fico. Um exemplo: a venda de cigarros � legal mas o tr�fico de cigarros continua apesar disso. O mesmo pode-se dizer do tr�fico de pedras preciosas, cuja venda clandestina se mant�m apesar da repress�o. Por que, ent�o, o tr�fico de drogas, que movimenta milh�es de reais, iria acabar? N�o vejo raz�o para acreditar nisso.
Mas tudo bem, a maconha vai ser legalizada, de modo que, a partir da�, o consumidor da erva poder� portar, sem problema, a por��o de maconha necess�ria a seu consumo. Mas n�o uma quantidade que indique ter ele a inten��o de vend�-la. Ou seja, consumo pode, venda n�o pode.
A� tenho certa dificuldade de entender: se a lei admite o uso da droga, por que ent�o pro�be sua venda? Como justificar-lhe a proibi��o se a mesma lei considera seu consumo legal? Parece-me contradit�rio ou sou eu que estou pensando errado?
Vejamos: se o Estado admite o uso da maconha, ele est� inevitavelmente assegurando que ela n�o provoca mal algum ao usu�rio, mesmo porque seria um absurdo permitir o livre consumo, pela popula��o, de algo que lhe prejudique a sa�de f�sica ou mental. Logo, para todos os efeitos, se o uso da maconha � legalmente permitido ser� porque nenhum mal ela causa. Mas, se � assim, proibir-lhe a venda n�o tem explica��o.
Ou tem? Uma explica��o poss�vel seria que os pr�prios legisladores n�o estejam certos de que o amplo consumo da maconha nenhum mal provoque � sociedade e especialmente ao pessoal mais jovem.
J� imaginou se dezenas de milh�es de jovens passarem a se drogar e, em vez de cuidar do futuro,de estudar e buscar uma profiss�o –entreguem-se ao barato da maconha que tem, como principal caracter�stica, deixar o cara desligad�o dos problemas da vida?
N�o resta d�vida de que d�i menos viver nas nuvens do que encarar a realidade. Sim, d�i menos at� o cara cair na real.
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