Cronista, cr�tico de arte e poeta.
Not�cia no papel
Ainda no final dos anos 1950, os jornais brasileiros usavam, na reda��o das not�cias, o que se chamava "nariz de cera".
Era o seguinte: a not�cia propriamente dita era antecipada por considera��es efetivamente desnecess�rias. Por exemplo, se a not�cia era um assassinato, antes de contar o que ocorreu, chamava a aten��o para o aumento da criminalidade.
Naqueles anos, a �nica exce��o era o "Di�rio Carioca", que adotara a t�cnica do "lide" e do "sublide", inventada pelo jornalismo norte-americano. Tomei conhecimento disso em 1957, quando fui acolhido pelo simp�tico matutino, no qual trabalhavam Carlos Castelo Branco, Pompeu de Souza e Prudente de Morais Neto, entre outros.
Se o clima da Reda��o era de brincadeira, as not�cias eram redigidas objetivamente, pois consistiam em responder �s seguintes perguntas: o que, quem, quando, onde e por qu�.
Considera��es cr�ticas ou opini�es o leitor encontrava na p�gina editorial do jornal, n�o na not�cia, que devia informar ao leitor o que efetivamente ocorreu.
Esse tipo de jornalismo moderno s� havia no "Di�rio Carioca", at� que a Condessa Pereira Carneiro, dona do arcaico "Jornal do Brasil", decidiu moderniz�-lo. Ela tomou essa decis�o influenciada pelo suplemento dominical de seu jornal, inventado por Reynaldo Jardim e que se tornara um exemplo de criatividade na imprensa do pa�s.
Para efetivar a moderniza��o do "JB", chamou Odylo Costa Filho, que era maranhense, como seu falecido marido. A renova��o efetivamente se deu quando foi para l� o trio que j� tentara renovar a revista "Manchete": J�nio de Freitas, Amilcar de Castro e, mod�stia � parte, eu.
T�nhamos sido demitidos daquela revista por insistirmos em valorizar o espa�o em branco nas p�ginas. Adolpho Bloch, dono da "Manchete", ficou furioso, o que levou o cartunista Borjalo a escrever num quadro negro que havia na Reda��o: "Preconceito de cor: guerra contra o branco".
J� Odylo, ao contr�rio de Adolpho, era tolerante. N�o s� aceitou o uso do "lide" e "sublide" como permitiu as mudan�as dr�sticas na fei��o gr�fica do jornal. E veja que se tratava de um jornal de an�ncios classificados, que nem corpo de rep�rter e redatores possu�a, antes da mudan�a.
Pois bem, uma das inova��es foi retirar o fio negro que separava as colunas de textos nas p�ginas, j� que, para Amilcar, bastava o espa�o em branco entre elas. Disso resultou uma leveza visual que nenhum jornal tinha.
Outra inova��o, que se deveu ao J�nio, foi o modo de usar a primeira p�gina. At� ent�o, no "JB" como nos demais jornais, as not�cias mais importantes come�avam na primeira p�gina e continuavam em alguma p�gina de dentro.
J�nio mudou isso: as not�cias importantes eram postas resumidamente na primeira p�gina e integralmente numa p�gina de dentro reservada �quele assunto: se fosse pol�tica, ia para a p�gina de pol�tica, fosse economia, para a p�gina de economia.
Isso significava uma revolu��o no modo de estruturar o jornal e que ia se impor no futuro.
Hoje, todos os jornais t�m p�ginas espec�ficas para diferentes assuntos, o que facilita ao leitor encontrar o que deseja ler e tamb�m ajuda na composi��o do jornal, tanto do ponto de vista gr�fico quanto redacional. Mas come�ou ali, no "JB".
Naturalmente, as mudan�as verificadas na imprensa n�o se limitam a essas a que me referi. Minha inten��o, ao falar delas, foi sobretudo informar o leitor de hoje daquele momento marcante do jornalismo brasileiro.
De l� para c�, muitas mudan�as ocorreram, particularmente devido � televis�o e, sobretudo, � internet. Os jornais j� n�o t�m o monop�lio da informa��o. Pode-se dizer mesmo que nenhuma not�cia importante, que os jornais publicam, n�o ter� sido difundida antes por aqueles meios de comunica��o.
Por outro lado, todos os jornais publicam as mesmas not�cias, o que os obrigou a se valerem das colunas assinadas por nomes destacados, nem sempre jornalistas, que oferecem ao leitor algo que ele s� pode encontrar ali, naquele jornal.
� o que a imprensa escrita est� fazendo para sobreviver, n�o se sabe at� quando, pois, ao que tudo indica, os atuais leitores deixar�o as p�ginas de papel impresso pela tela dos computadores e dos celulares.
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