Cronista, cr�tico de arte e poeta.
A cr�tica de arte hoje
Como fica a atividade do cr�tico de arte, hoje, quando a express�o predominante no terreno das artes pl�sticas, intitulada arte contempor�nea, n�o mais se vale da linguagem art�stica (pict�rica, escult�rica, gr�fica) e, muitas vezes, nem do ato de fazer a obra?
Perten�o a uma gera��o de cr�ticos herdeira de personalidades not�veis da moderna cr�tica de arte, como Lionello Venturi, Giulio Carlo Argan, Herbert Read e o brasileiro M�rio Pedrosa, entre muitos outros, que contribu�ram para a compreens�o da cria��o art�stica, tanto da atualidade quanto do passado.
A nossa gera��o enfrentaria, em fun��o das mudan�as ocorridas no terreno das artes, a crise que inevitavelmente se estendeu ao plano da reflex�o est�tica.
Quem teve, como eu, a sorte de viver e atuar nos anos de 1950 a 1960, lembra da import�ncia que tinha, naquela �poca, a discuss�o dos problemas est�ticos, das novas ideias e das propostas que eram formuladas ent�o.
A consequ�ncia dessa efervesc�ncia cultural se refletia no interesse da imprensa pelo que acontecia no terreno das artes pl�sticas e que se concretizava nas colunas de notici�rio e aprecia��o cr�tica, presentes em todos os jornais e revistas importantes.
M�rio Pedrosa, Fl�vio de Aquino, M�rio Barata, Ant�nio Bento e Quirino Campofiorito, entre outros, assinavam aquelas colunas.
Foi na d�cada de 1950 que se deu a grande ruptura na arte brasileira com o surgimento do concretismo.
Tratava-se de fato de duas concep��es art�sticas antag�nicas: de um lado, a arte figurativa, representada por Portinari, Di Cavalcanti, Guignard, Pancetti –de uma forma ou de outra continuadores do modernismo brasileiro, essencialmente figurativo–, de outro, uma arte geom�trica, despojada de qualquer refer�ncia do mundo real e �s express�es de car�ter regional ou nacional.
Esse debate incendiou os meios de comunica��o, com a publica��o de entrevistas e artigos pol�micos. Tudo isso resultava naturalmente do trabalho inovador dos artistas, que se estenderia por tr�s d�cadas, pelo menos, ampliadas com o surgimento do movimento neoconcreto, que veio introduzir novas propostas inusitadas, j� n�o apenas no plano nacional, mas tamb�m no plano internacional.
Dentro do pr�prio neoconcretismo se deu uma diferencia��o –sem que isso fosse explicitado teoricamente– entre o que produziam Franz Weissmann, Am�lcar de Castro, Alu�sio Carv�o, Lygia Clark e H�lio Oiticica, que levaram mais adiante a ruptura com a linguagem geom�trica e a pr�pria pintura. Esse novo caminho, que a pr�pria Lygia afirmava n�o ser mais arte, antecipou, de certo modo, em alguns aspectos, o que seria chamado mais tarde de arte contempor�nea.
Mas havia uma diferen�a: � que os trabalhos da Lygia e do H�lio, embora rompendo com a linguagem ent�o adotada pelos artistas, eram produtos de seu fazer e de sua criatividade. N�o eram "ready-mades".
Lygia, por entender que aqueles trabalhos n�o cabiam mais no conceito de arte, atribui-lhes uma outra fun��o –a fun��o terap�utica, de liberta��o do superego. Naturalmente, tendo esse prop�sito, escapava ao ju�zo da cr�tica de arte.
J� as manifesta��es da arte contempor�nea, que n�o se atribuem aquela fun��o, se tamb�m escapam ao ju�zo da cr�tica � por outra raz�o: pelo fato de que n�o elaboram uma linguagem, pois partem do princ�pio duchampiano de que "ser� arte tudo o que eu disser que � arte".
Se � verdade que o importante � a obra de arte, muito mais que a cr�tica em si, deve-se admitir que ela integra o processo criador, uma vez que o pr�prio artista a exerce enquanto cria.
A cr�tica realizada pelo cr�tico �, certamente, diferente, mas faz parte do processo art�stico, na rela��o da obra com o espectador e como fator de inser��o da obra no contexto cultural.
H� de se considerar, por�m, que para que isso aconte�a � necess�rio que a obra exista enquanto linguagem, objetivamente apreendida e avaliada.
Uma arte que n�o se rege por qualquer princ�pio, e n�o � fruto do trabalho elaborador de uma linguagem, n�o pode ser analisada e nem ser objeto de qualquer ju�zo de valor, ou seja, de qualquer ju�zo cr�tico. Talvez por isso, a cr�tica militante n�o exista mais.
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